Ou balde de Lego x balde de tinta!
A questão colocada em post anterior, perguntava por que não somos todos iguais após várias gerações.
Um indivíduo passa seu material genético aos filhos. Cada filho terá 50% dos genes.
Os netos terão 50% dos genes dos filhos, diluindo o ancestral original a 25%.
Na décima geração, será diluído por 1024, 0,01%, até que nada sobrará do material original. Cadê a vantagem evolutiva de um gene?
O raciocínio acima é válido, foi utilizado para apontar uma contradição na Teoria da Evolução de Charles Darwin, que efetivamente não conseguiu responder a mesma. A resposta definitiva só veio após os trabalhos de Gregor Mendel, sobre genes. Esta história está bem detalhada no livro “Brilliant Blunders”, do escritor de ciência popular Mário Lívio.

A resposta é que o tal enigma acima seria verdade se fossemos baldes de tinta, infinitamente misturáveis e divisíveis.
Porém, o material genético está mais para um balde de Lego, não é infinitamente divisível e misturável.

Cada gene, digamos o que determina a cor dos olhos, é como se fosse uma pecinha de Lego.
Cada filho recebe as peças de Lego do pai e da mãe.
Ou seja, pensando somente nos genes, se um gene for passado para pelo menos um dos filhos em cada geração, ele terá sobrevivido idêntico mesmo após inúmeras gerações! (Desconsiderando mutações, que têm uma porcentagem muito pequena).
Se um gene der alguma vantagem competitiva, ou se o indivíduo pai for alguém com muito poder (um imperador, um rei), que consegue ter muitos descendentes, ele vai conseguir multiplicar os genes pela população e talvez até hoje tenhamos os seus genes (exemplo, traços do conquistador Genghis Khan estão presentes até hoje em 1 de cada 200 homens). Um verdadeiro “gene egoísta”, termo do pesquisador Richard Dawkins!

Bônus: A história acima me lembra o conto do mulá Nasrudin e a sopa.
Um dia, o mulá Nasrudin recebeu a visita de um conhecido, que lhe trouxe um ganso. O mulá fez uma sopa com a ave, e compartilharam o jantar.
No dia seguinte, um parente do conhecido bateu à porta de Nasrudin, querendo partilhar da sopa (mas sem trazer nada).
E, assim sucessivamente, vieram os amigos dos parentes do conhecido original, querendo um pouco da sopa (e sem trazer ingredientes novos):
- Olá, eu sou o amigo do amigo do amigo do amigo do parente do conhecido que lhe trouxe o ganso.
Nasrudin prontamente o convidou para jantar, e após um tempo, trouxe uma tigela de água quente.
- O que é isso? – perguntou a visita.
- É o que sobrou da sopa da sopa da sopa da sopa da sopa da sopa do seu amigo do amigo do amigo do amigo do parente do conhecido que me trouxe o ganso!
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https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/ciencias-exatas/tolices-brilhantes-46504292