A Klabin S.A. é a maior produtora e exportadora de papéis do Brasil.
Parte da bela história de 120 anos da empresa é contada no livro “Wolff Klabin, a trajetória de um pioneiro”.
Os primórdios
Maurício Klabin chegou ao Brasil em 1889, fugindo da perseguição a judeus na Lituânia, na época sob o domínio da Rússia. Trazia 20 quilos de tabaco e 20 libras esterlinas.
Começou a trabalhar numa papelaria na Av. S. João, em São Paulo, depois passou a ser proprietário da mesma.
Nos anos seguintes, vieram irmãos e tios da Lituânia. A família era de Klabins e Lafers. A família Lafer já tinha relações de parentesco desde a Lituânia.
Em 1899, funda a Klabin Irmãos e Cia, cujos produtos eram livros em branco, papel para escrever e seda, importando material da Europa. Este ano é considerado o ano de fundação da empresa, embora a fábrica de papel viesse muito tempo depois.
A principal matéria prima utilizada pela empresa era o papel, importado da Europa. O Brasil tinha poucas fábricas, e as que existiam trabalhavam com papel de menor qualidade.
Em 1903, a Klabin irmãos arrenda a Fábrica de Papel Paulista, produzindo 700 t anuais: papel de embrulho, livros-caixa.
Em 1909, inaugurou nova fábrica em SP, com maquinário importado – a nova fábrica foi chamada de Companhia Fabricadora de Papel.
Wolff Klabin
Wolff Chegou ao Brasil com 10 anos, em 1902. Vendedor nato, trabalhou como caixeiro viajante da companhia, vendendo material de papelaria.
Wolff não fazia parte diretamente do núcleo da familia Klabin que era dona da empresa. Era uma espécie de primo “pobre” que teve que percorrer um caminho diferente: mostrar primeiro seu valor como empreendedor, e depois ser aceito.
Ele teve um bom desempenho como vendedor, e foi transferido definitivamente para a filial de Porto Alegre, na época da Primeira Guerra Mundial.
Devido à guerra, surgiram dificuldades na importação e, consequentemente, escassez de papel. Com isso, surgiram oportunidades. Houve um grande estímulo à produção nacional de papel.
Os anos de Wolff em Porto Alegre mostraram-se muito importantes, não só pelo seu desempenho na empresa, mas também por fazer contatos que abririam muitas portas no futuro.
A Segunda Geração da Klabin
Pelos anos 1920, Wolff foi chamado a SP, pelo bom desempenho no Sul. Ele e Horácio Lafer formaram o núcleo da segunda geração da Klabin, após a morte de Mauricio.
Horácio era o intectual, acadêmico e descendente da família. Wolff era o pragmático, o self made man empreendedor. A Klabin era uma empresa média na época.
Ambos tornaram a Klabin uma gigante nacional.
No final dos anos 1920, Wolff mudou-se para o Rio, onde a Klabin tinha a necessidade de ser mais atuante. Foi um golpe do destino, que permitiu uma série de eventos fortuitos que serão descritos mais para frente.
As conexões de Wolff com políticos gaúchos e cariocas abriram uma série de portas para a companhia. E também por isso, Horácio Lafer foi Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas.
A Companhia Fabricadora de Papel tinha produção de 6.700 ton em 1927. Mas grande parte da matéria-prima continuava sendo importada. Wolff via a necessidade de ter matéria-prima própria para a fabricação de papel.
A Fábrica de porcelana
Em 1931, Wolff arranjou a aquisição da Manufatura Nacional de Porcelana. O Visconde de Moraes, já velho e afastado da operação, queria que Wolff assumisse. O Visconde faleceu anos depois.
Wolff liderou a reorganização da fábrica de porcelana, com gestão moderna, importação de tecnologia e know how. Passou a ser a maior fábrica de porcelana do mundo, na época.
O sucesso da fábrica de porcelana garantiu um fluxo de caixa que permitiu o grande salto futuro da empresa, a aquisição de terras no Paraná.
Um outro empreendimento ocorreu em 1935. Associada a Votorantim, os Klabin fundaram a Companhia Nitroquímica Brasileira. Era uma fábrica de tecido sintético, o rayon.
O rayon foi superado por uma inovação tecnológica superior, o nylon, e a Klabin decidiu não investir para acompanhar esta evolução: encerrou sua participacao na nitroquímica.
A fazenda Monte Alegre
O grande salto da empresa foi a aquisição da base florestal do Paraná, na fazenda Monte Alegre, que fica na cidade que atualmente é conhecida como Telêmaco Borba.
Foto do plantio em Mosaico das florestas da Klabin
Manuel Ribas era governador do Paraná, e já conhecia Wolff da época de Porto Alegre. Havia uma grande porção de terras administradas pela Companhia Agrícola e Florestal de Monte Alegre, mas esta companhia fora à falência. Ribas ofereceu as terras aos Klabin, que há muito tempo já sentiam a necessidade de ter matéria-prima nacional de qualidade.
Em 1933, a Klabin arrematou as terras, num leilão organizado pelo governo do Paraná. Não dava para deixar passar a oportunidade de adquirir um extensão tão grande e importante de terras propícias para a plantação de pinus. A fábrica de papel em si ficaria para depois. Havia inúmeros problemas como a falta de infraestrutura logística. Mesmo se tivesse a fábrica, deveria haver um investimento gigantesco em estradas e infraestrutura.
A fábrica de Telêmaco Borba
Em 1939, começa a Segunda Guerra Mundial. E, com isso, as importações ficaram mais difíceis, incluindo a celulose para fazer papel-jornal.
Getúlio Vargas consultou Assis Chateaubriand sobre a possibilidade de construção de uma grande fábrica de papel no país. Getúlio se preocupava com a possível falta de papel, e Chateaubriand era dono de um império de jornais e comunicação na época. Chatô recusou, por não ter terras para plantação, não ter know how e seu negócio ser comunicação. Mas ele indicou os Klabin para tocar o negócio e intermediou o encontro.
Vale lembrar que o jornal era uma das principais formas de comunicação de massa do século passado.
Getúlio ofereceu financiamento, mercado garantido e um ramal ferroviário.
Àquela época, os Klabin já estavam estudando a importação de equipamentos e toda a estrutura necessária para a implantação de uma fábrica de papel em Monte Alegre. Além dos custos de importação e da infra estrutura, era necessária uma quantidade grande de energia elétrica. Tudo isto tornava o investimento muito pesado.
Depois de muita negociação, o governo federal e a Klabin entraram num acordo de financiamento para viabilizar a construção da fábrica.
Em 1942 foi lançada a pedra fundamental da Indústria Klabin de Papel e Celulose, IKPC, e da represa Mauá, para fornecimento de energia.
A fábrica de Monte Alegre em funcionamento
Em 1942, a Companhia Fabricadora de Papel produzia 15 mil toneladas por ano.
Em 1945 iniciou-se a produção na fábrica de Monte Alegre. Em 1946, a capacidade era de 80 mil toneladas ano.
Inúmeros problemas técnicos tiveram que ser superados. Problemas como quebra do papel, e cor da fibra. A fibra era escura demais, porque as árvores eram muito velhas. Mas depois de muitos anos de aprendizado e trabalho, tais problemas foram sendo contornados.
Foto da Fábrica de Monte Alegre atualmente.
Planejamento Florestal
Era comum na época a indústria ser predatória. A Klabin foi uma das empresas pioneiras no Brasil, em termos de reflorestamento. Desde o início das operações, já havia a preocupação com a sustentabilidade ambiental da empresa a Longo Prazo.
A terceira geração
Em 1957 Wolff Klabin faleceu, e em 1965, Horácio Lafer. A segunda geração estava saindo de cena, passando o bastão para a terceira geração. Mas, desta vez, foi diferente.
A empresa Klabin da época começou um processo de profissionalização de sua gestão, com executivos profissionais do mercado e estrutura de governança para o conselho. Foi uma das primeiras empresas brasileiras a tomar tal iniciativa.

A Klabin hoje
Em 2016 a Klabin deu outro salto de produção, com a inauguração de uma fábrica nova de celulose, o Projeto Puma, no município de Ortigueira (vizinho a Telêmaco Borba). Na época, o maior investimento privado do Paraná, com números extraordinários:
- 8,5 bilhões de reais em investimentos totais,
- 1,5 milhão de toneladas na produção anual de fibras (curta e longa),
- 1,4 mil empregos durante a operação da fábrica,
- 270 MW de energia gerada (sendo 150 MW vendida como excedente),
- 200 hectares de área construída,
- 72 quilômetros entre a floresta e a fábrica,
- 700 milhões de reais em impostos gerados.
Hoje a Klabin continua sendo uma das maiores empresas do setor, com mais de 15 mil funcionários e produção de 3,5 milhão de toneladas de papel e celulose por ano.
Em 2019, a Klabin fez mais um anúncio de expansão, o Projeto Puma II. Serão investidos mais de R$ 9 bilhões, quebrando o próprio recorde de maior investimento privado no Paraná. O projeto prevê duas máquinas de papel kraftliner, previstos a entrar em operação em 2021 e 2023, e segundo o site de relações industriais da empresa, o volume de produção fará da empresa o terceiro maior vendedor de papel kraftliner do mundo!
Nada mal para uma empresa que começou com um imigrante trazendo 20 quilos de tabaco na bagagem.
Arnaldo Gunzi
Links:
Link da Amazon: https://amzn.to/2ScA1aK
Klabin vai investir R$9,1 bi no projeto Puma II até 2023
https://www.klabin.com.br/pt/a-klabin/unidade-puma/projeto-puma
Leia também:
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Bento Koike, o samurai da Inovação
Agradecimento especial a Cláudio Galuchi por emprestar o livro.

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Eu comecei minha vida profissional nessa grande empresa, Klabin do Paraná em 1967. Meu primeiro registro na carteira profissional, esta escrito no campo da profissão “servente”, pois tinha somente o ensino primário, logo sem nenhuma profissão. Fui fazer SENAI que, na época era totalmente gratuito. Fiz mecânica geral, depois desenho mecanico, metrologia e serralheria e trabalhei em três períodos que se somaram 17 anos. Sai para buscar mais oportunidades, mas a Klabin eu considero que minha primeira escola. Hoje ja aposentado e com profundo conhecimentos em línguas e formado em Filosofia, vieri professor e para não parar de vez ministro cursos de Filosofia, Historia e Cultura Africana pelo Paraná e Brasil. Depoiis da Kllabin consegui viajar pelo mundo trabalhando.
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Muito bom o texto que resume de forma objetiva a história da Klabin. Parabéns Arnaldo!
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