Ulisses e Telêmaco (Borba)

Neste momento, estou saindo da cidade de Telêmaco Borba, no Paraná.

Não sei quem foi este tal de Telêmaco Borba, nem quando viveu, nada.

Mas conheço outro Telêmaco. De uma história de 3000 anos atrás. Telêmaco, filho do grande herói grego Ulisses e de sua esposa Penélope.

Ulisses, o mais astuto dos mortais, era o rei do pequeno estado de Ítaca, na Grécia.

Ulisses vivia tranquilamente os seus dias, comendo kibe cru nas quintas-feiras à noite com os amigos no bar Terapia, jogando tênis no Harmonia clube e saindo da cidade em alguns fins de semana, para levar a esposa Penélope, grávida, ao médico.

Quando Telêmaco finalmente nasceu, Ulisses teve de partir para a Guerra de Troia, segundo a Ilíada de Homero.

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Imagine que, nesta época, não havia um grande governo central, mas sim dezenas de cidades-estado pequenas, que viviam por si só, mas se juntavam em caso de necessidade.

E este era um caso especial. O rei de Esparta, Menelau, convocava as cidades-estado aliadas para a guerra contra Troia.

O motivo: o príncipe Páris, troiano, tinha feito algo inimaginável. Numa visita oficial de Troia à Esparta, Páris roubou Helena, esposa de Menelau.

Aliás, Helena não era qualquer mortal comum. Helena era filha de Zeus. Zeus, o deus dos deuses, costumava dar uma escapadinha da esposa Hera de vez em quando, e fazer alguns filhos na Terra. Helena era a mais bela mulher que já tinha andado na face da Terra. A mais pura perfeição em pessoa. Bruna Marquezine é nota zero se comparada com Helena…

Helena era casada com Menelau, o rei de Esparta. E Menelau, com a ajuda do irmão Agamenon (rei de Micenas), já tinha quebrado o pau com meio mundo para ficar com Helena.

Mas ela acabou sendo seduzida por Páris, com a ajuda de Afrodite, a deusa do amor. Helena acabou fugindo com Páris para a cidade de Troia.

A história da intervenção de Afrodite também merece um parêntesis. Éris, a deusa da discórdia, não tinha sido convidada para uma festa de casamento de dois deuses. A fim de vingança, ela apareceu no clímax da festa e jogou um pomo de ouro no meio do salão. O pomo tinha um bilhete, escrito, “Para a mais bela deusa da festa”. Três deusas começaram a brigar pelo pomo de ouro: Atena, Hera e Afrodite (daí surgiu o termo “pomo da discórdia”). Como não havia consenso, deixaram o abacaxi (ou o pomo?) nas mãos de Zeus, para ele decidir. Como Zeus não é bobo, ele repassou o abacaxi para frente. Chamou um mortal, que no caso era Páris, para decidir, e ponto final.

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Todas as deusas prometeram presentes, porém, no final, Páris deu o pomo para a Afrodite, deusa da beleza e do amor. Em troca, Afrodite prometeu a Páris o amor da mais bela mortal da face da Terra. E é por isso que Helena embarcou com Páris para a cidade de Troia…

Toda esta confusão para dizer que a Grécia inteira estava em guerra com Troia. Os navios partiram. O recém-nascido Telêmaco ficou aos cuidados da mãe, Penélope, que nem tinha saído do hospital Dr. Feitosa.

Além de Ulisses, diversos outros reis e heróis participaram da guerra. Ajax, Agamenon, Aquiles pelo lado dos gregos. Hector, Páris, rei Priam pelo lado troiano.

E a guerra de Troia foi uma tremenda guerra. Troia estava protegida por muros altos e impenetráveis. Os gregos não conseguiam estratégia que funcionasse. Foram 10 anos de guerra, com baixas pesadíssimas para ambos os lados.

Tudo parecia acabado quando Aquiles, o maior e mais poderoso dos gregos, morreu atingido por uma flecha no calcanhar, o famoso calcanhar-de-Aquiles. Dizem que a mãe de Aquiles, a ninfa Tétis, banhou-o no rio Styx, deixando-o invulnerável. Exceto num ponto, o calcanhar, que foi por onde ela o segurou.

No décimo ano de guerra, os gregos estavam exaustos e a ponto de desistir. Mas Ulisses arquiteta a primeira grande estratégia da história: o famoso cavalo de Troia. Os gregos fingem desistir da guerra e ir embora, deixando apenas um cavalo, em homenagem aos deuses. Deixaram um “presente de grego” (e é daí que surge o termo).

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Os troianos levam o cavalo para a cidade, como um troféu, e comemoram fartamente a vitória, após tanto tempo de guerra.

Quando chega a noite, os gregos descem do cavalo e abrem os portões da cidade para a entrada do exército grego, que estava preparado e escondido. Finalmente, eles conseguiram entrar em Troia. Vitória da Grécia. Troia é varrida do mapa, não sobra pedra sobre pedra.

Helena retorna com Menelau para Esparta. Todo mundo volta para casa. Termina a Ilíada. Começa a Odisseia.

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A Odisseia tem este nome porque Ulisses era chamado de Odisseus na mitologia grega. E o livro narra a sua volta para casa, a volta para Penélope e Telêmaco.

Ulisses embarca num navio com os companheiros. A primeira parada é numa ilha. O azar foi que esta ilha era habitada por cíclopes, criaturas monstruosas com apenas um olho. Um dos cíclopes, um tal de Polifemo, aprisiona os homens de Ulisses e diz que vai devorar um por dia. Ulisses, utilizando de suas artimanhas, consegue enganar Polifemo e cegar o seu único olho. Ulisses e seus homens aproveitam a chance e vão embora rapidinho.

O problema é que os Cíclopes são filhos de Posseidon, o deus dos mares. Posseidon não fica nada feliz com a atitude de Ulisses, e faz de tudo para atrapalhar a volta do mesmo.

Ulisses passa pelas sereias (onde ele é amarrado ao mastro para ouvir o famoso canto da sereia sem se deixar levar por ela), pela feiticeira Circe (que transforma seus homens em porcos), criaturas medonhas chamadas Cilla e Caridbe, depois vai até o inferno para perguntar o caminho que ele deveria seguir. Neste momento, todos os seus homens já estão mortos, e sobra só ele.

Ulisses vai parar na ilha de Calipso. Calipso não é uma banda de música, mas um deusa que se apaixona pelo herói. Ulisses fica 7 anos nesta ilha, onde tem tudo: o afeto de Calipso, comida e bebida à vontade, diversão, serviçais à disposição para qualquer trabalho. Mas Ulisses não estava feliz. Todos as noites, chorava na praia, querendo voltar para casa.

Zeus ordenou que Calipso ajudasse Ulisses a voltar para casa. Ela obedeceu, mas antes, fez uma proposta. Se ele aceitasse ficar com ela, Ulisses teria vida eterna e juventude eterna, além de continuar a viver como um deus em sua ilha.

A resposta de Ulisses: “Prefiro passar poucas décadas da minha vida no lugar correto do que viver a eternidade em um lugar que não é o meu”.

Assim, Ulisses deixa a ilha de Calipso. Mais algumas dezenas de dificuldades depois, Ulisses finalmente retorna para Ítaca, para os braços de Penélope, e para o seu filho Telêmaco. Foram 20 anos (10 na guerra de Troia e 10 no retorno).

E, finalmente, Ulisses conseguiu completar a sua missão. Encontrou o seu lugar na cidade de Telêmaco Borba e passou o resto de seus dias na companhia da mulher e filho, às vezes andando de bondinho. O almoço, normalmente na Tec’s. Em algumas quartas-feiras, uma pizza na Torre. Ele também não tinha perdido o hábito de ir às quintas à noite encontrar os amigos no bar Terapia. E, para fechar as suas aventuras, de vez em quando um futebol na Lagoa.

Arnaldo Gunzi
Fev 2016



Ideias técnicas com uma pitada de filosofia:

https://ideiasesquecidas.com/

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