Hoje em dia, temos uma quantidade tendendo a infinito de músicas à mão, via Spotify, Deezer e similares.
É tão fácil que as novas gerações nem sabem direito como era num passado não muito distante.
Lembro de um episódio, no começo da década de 90. Eu estava na casa de um primo, e juntos, fomos à casa de outro parente dele, um primo de segundo grau, bem mais velho que nós. O objetivo: este último tinha adquirido um belo aparelho de som novo, e poderia gravar uma fita cassete de músicas para nós.
Na casa dele, havia um aparelho de som, daqueles que tinham um número enorme de botões que ninguém sabia para que serviam. Conseguia tocar discos vinil, sintonizar rádio AM / FM e tocar fita cassete. O CD não existia nessa época (ou existia, mas não era popular ainda. Viria a ser uma revolução alguns anos depois).
O aparelho de som que tinha na minha casa também conseguia gravar fitas cassete, só que eu não sabia mexer, e além disso também tinha um elemento crucial: não tinha a música. Meus pais não tinham muitos discos em casa, e como pré adolescente que eu era na época, não tinha a menor condição de comprar música.
Eu e o meu primo passamos tipo uma hora ouvindo músicas e anotando as faixas que queríamos. Ao final deste período, o anfitrião pegou as listas e gravou, um cassete para cada um, preenchidos dos dois lados da fita. Era um processo longo, porque para gravar uma hora de música, era necessário tocar essa hora de música e ir gravando simultaneamente no cassete, não havia jeito de acelerar o processo (para efeito de comparação, downloadar via torrent é extremamente mais rápido).
Pois bem, voltando para casa, e pelos próximos 5 anos mais ou menos, toquei a fita cassete algumas centenas de vezes, frente e verso, devorando cada segundo gravado naquela fita magnética.
Uma das músicas do cassete, a que mais gostei e toquei, era a doce e bela canção “Fields of Gold”, de Sting. “You’ll remember me when the west wind moves, Upon the fields of barley”. Era possível dar fast forward e fast backward na fita cassete, a fim de posicionar a fita a tocar a música desejada – ou, de modo mais mecânico, colocar um lápis em um dos buracos do cassete e girar no braço.
Fast forward algumas décadas, hoje, temos a mesma versão de “Fields of Gold” de anos atrás, além de interpretações alternativas por outros cantores (tem uma da Eva Cassidy espetacular), e também versão puramente saxofone, via Youtube, Spotify, Deezer e concorrentes.
Porém, ao mesmo tempo que temos uma quantidade infinita de músicas, o valor individual de cada uma dessas acaba diluído, tendendo a zero. É uma conta matemática. Ninguém hoje vai perder tanto tempo quanto perdi décadas atrás para gravar uma dúzia de faixas e ouvir repetidamente por anos, então a atenção por cada música diminui.
Seja como for, convido o leitor a apreciar uma bela canção, usando as tecnologias mais atuais dos dias de hoje.
Trilha sonora: Fields of Gold – Sting
Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=KLVq0IAzh1A
Spotify
https://open.spotify.com/track/22gLGCKbFKwmgZhrpVcnFb
Cheguei aqui por acaso e qual não foi a minha surpresa quando vi a foto ilustrativa. Esse aparelho da foto é meu (sim é, pq ainda tenho ele) e a foto foi eu mesmo quem tirou. O uso deste aparelho foi exatamente o que você descreveu, com a diferença que eu já trabalhava e conseguia comprar meus próprios discos. O toca fitas eu usava para gravar as músicas no rádio. Deixava o “Rec” já no jeito, pausado e já ficava esperando começar uma música para gravar. E torcer para não falarem no meio da música ou cortarem antes de terminar. Quase Impossível quem é da nova geração entender o que é gastar todo seu (pouco) salário para comprar música, comprar mídia, agulha, etc…
CurtirCurtir
Fantástico o seu comentário, valeu pela foto. O aparelho que tinha em casa já foi descatado há tempos, e peguei uma foto boa da internet mesmo para ilustrar o post.
Muito obrigado!
CurtirCurtir