Albert Einstein (1879 – 1955) é o cientista mais pop de todos os tempos. Ele estampa pôsteres, camisetas, canecas e uma infinidade de produtos mundo afora. Sua foto e suas ideias aparecem com frequência em revistas de ciência popular. Vira e mexe, Einstein é tema de filmes e documentários.
Até a sua famosa equação, E=MC², aparece em todo lugar, embora pouquíssimos a compreendam de fato.
A fascinação por ele é tanta que, depois da sua morte, o médico legista decidiu roubar o seu cérebro para descobrir o segredo da genialidade, uma história muito maluca contada no livro “Conduzindo Mr. Albert”.
Mas a história é não-linear, como eu gosto de explorar neste espaço.
No caso do nosso querido cientista alemão, há um evento que o transformou, da noite para o dia, de um obscuro analista de patentes para o maior cientista do planeta. Este evento foi a confirmação de sua teoria, por outro cientista, Arthur Eddington. Porém, há algumas pontas soltas nesta história…
Fosse o rumo da história um pouquinho diferente, talvez ninguém conhecesse Einstein.
Breve histórico
O cientista alemão Albert Einstein publicou 4 artigos em 1905, o seu ano miraculoso. Dentre os artigos, em especial uma explicação do efeito fotoelétrico (que lhe renderia o Prêmio Nobel de 1921) e um paper sobre a Teoria da Relatividade Especial.
Mas não foi a Teoria da Relatividade Especial que o fez famoso. O adjetivo “especial” vem de “específico”, no sentido de que a teoria valia apenas num caso restrito.
Einstein passaria mais 10 anos trabalhando em sua teoria, a fim de incorporar a gravidade, e aí sim, abalar as fundações do universo newtoniano.
Porém, como tudo na história, ele não estava sozinho nesta corrida. Um cientista como ele deve trocar informações com outros pares, a fim de ajudar e ser ajudado também. Um concorrente específico, o brilhante matemático David Hilbert (1862 – 1943), se fascinou com a Teoria da Relatividade e passou a estudá-la por conta própria.
Hilbert foi um dos maiores matemáticos de todos os tempos. Eu me arriscaria a dizer que, QI contra QI, Hilbert vencia Einstein facilmente, seria proporcional a um 7 x 1. Nota – neste aspecto, o diferencial de Einstein não era a matemática, e sim a abstração física. Ele mesmo disse, um dia: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”.
Einstein publicou o seu artigo definitivo com a Teoria da Relatividade Geral em 1915. Hilbert também publicou artigos com dias de diferença, até incorporando ideias de Einstein no seu paper.
A confirmação da Teoria por Arthur Eddington
Sir Arthur Eddington (1882-1944) foi um magnífico astrofísico da época. Ele foi uma das primeiras (e únicas) pessoas do mundo a compreender a beleza e o impacto das equações de Einstein.
Eddington bolou um experimento, a fim de confirmar na prática as predições de Einstein. A ideia básica era medir a posição de algumas estrelas, em duas circunstâncias: com ou sem a presença do Sol. A grande massa do Sol faria com que a luz da estrela se curvasse, dando a impressão de ela estar em uma posição diferente em relação à posição real.
Porém, a luz do Sol ofusca completamente a luz das estrelas, de modo que este teste deveria ser feito num eclipse solar.
As medições foram realizadas em 1919, em dois locais: na cidade de Sobral, no Ceará, e em São Tomé e Príncipe, na África.
Após os cálculos serem divulgados, confirmando a teoria, voilá, Einstein passa a ser o cientista mais famoso do mundo. O período era o fim da Primeira Guerra, e um astrônomo inglês confirmar a teoria de um alemão em algo importante era uma manchete boa demais.
Porém, há controvérsias. A tecnologia de 1919 não era tão precisa assim, e muita gente afirma que o erro era maior do que a certeza da medição.
Além disso, o experimento de Sobral (que dava resultados próximos ao da física de Newton) foi descartado por problemas técnicos.
Eddington era fã de carteirinha da Teoria da Relatividade, o que dá a impressão de haver um certo viés confirmatório nisto tudo. Talvez, se a história fosse um pouquinho diferente, fossem eles menos corajosos, talvez Eddington e sua equipe chegassem que o resultados eram inconclusivos, deixando a confirmação para testes posteriores.
Um eclipse solar não ocorre todos os dias, sendo que testes subsequentes demorariam anos para ocorrer, digamos uma década depois. Talvez, nesse meio tempo, os cientistas passassem a dar mais destaque ao paper de Hilbert do que de Einstein, afinal Hilbert era o maior gênio da época, e Einstein, desconhecido (mesmo o Nobel veio anos depois que ele era famoso, em 1921, e não foi pela Relatividade, mas pelo efeito fotoelétrico).
A Teoria da Relatividade é correta, conforme medições posteriores comprovaram e vêm comprovando até hoje – vide a confirmação das ondas gravitacionais pelo LIGO. Porém, talvez o crédito fosse para Hilbert. Mesmo se o crédito fosse para Einstein uma década depois, talvez não tivesse o destaque midiático que teve, e seria alguém relativamente desconhecido. Por exemplo, a Física Quântica também revolucionou a ciência, contudo somente os mais nerds conhecem os nomes dos cientistas envolvidos.
Seja como for, Einstein inspira gerações de jovens apaixonados por matemática, física e ficção científica, e suas elegantes fórmulas até hoje reinam como corretas para explicar os mistérios do espaço-tempo.
De Charles Chaplin para Einstein: As pessoas gostam de mim porque todos me compreendem. As pessoas gostam de você porque ninguém te compreende.
Links
https://www.quora.com/Whos-the-real-father-of-general-relativity-Einstein-or-David-Hilbert
https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein#Artigos_do_Ano_Miraculoso
https://www.esa.int/Our_Activities/Space_Science/Studying_the_stars_testing_relativity_Sir_Arthur_Eddington
https://www.nature.com/news/2007/070910/full/070903-20.html