Dar aulas é sempre interessante, porém dar aulas voluntárias para adolescentes é mais interessante ainda.
A empresa em que trabalho tem uma ação social, um programa chamado “Investir Vale a Pena”. Neste, participam cerca de 30 adolescentes de 15 a 17 anos, provindos de uma comunidade carente da cidade de São Paulo. O curso tem o objetivo de ajudá-los a desenvolver competências nas áreas de liderança, empreendedorismo e finanças pessoais. O grupo tem aulas aos sábados de manhã, durante o ano inteiro. É um curso gratuito, mas há um critério forte de seleção e várias metas a serem cumpridas, a fim de não perder a vaga.
Faz três anos, dou uma aula por ano e/ou participo da banca da conclusão de trabalhos.
É um grande aprendizado, tanto para eles quanto para os professores.
Algumas reflexões:
1) O modo de comunicação deve se adequar aos alunos. Sem querer, a gente usa termos como CAPEX, OPEX, SAP, BI, VPL, TIR, Pitch, MVP. Esses termos são muito específicos do meio empresarial.
Exemplo:
Numa das aulas, a aluna perguntou o que era SAP, após algum comentário meu.
A minha resposta foi a de que SAP era um tipo de ERP (obviamente, todos entenderam menos ainda…)
Portanto, temos que explicar de forma adequada à realidade dos ouvintes. Parece óbvio, porém, na prática é muito difícil se colocar no lugar dos outros para tal.
2) A relação de autoridade é diferente. Estou muito acostumado com aulas, palestras e reuniões com profissionais, ou seja, meus pares. Estes têm maturidade o suficiente para se inserir no contexto, e portanto, liberdade para ir e vir.
Com os jovens, na primeira das minhas aulas, dei a eles a mesma liberdade do pessoal acima. Em pouco tempo, alguns perderam o interesse no conteúdo e se dispersaram, gerando ruído.
A solução foi fazer o que dificilmente eu faria em outro contexto, como falar num tom mais alto, pedir explicitamente para fulano não dispersar. Ou seja, impor autoridade e tirar um pouco da liberdade de ir e vir. Após isto, todos respeitaram, o que mostra que não é má fé, e sim, interpretação de regras.
3) Não os subestime. Uma terceira e última, para não alongar demais. Os pontos acima dão a entender que o conteúdo deve ser o mais simples possível, mas não é isso. Não os subestime, são pessoas que têm vontade e capacidade de compreender muito bem a mensagem, se a comunicação conseguir ser feita.
Numa das aulas, expus o conteúdo proposto (juros simples e compostos), mas não deixei de dar a minha viajada filosófica (sobre dinheiro, trabalho e as leis da termodinâmica). É um arroz com feijão com um temperinho diferente, da qual os alunos não só absorveram, como surgiram boas discussões posteriores.
Conclusão
Vale muito a pena dedicar pelo menos algumas horas por ano dando aulas voluntárias.
São jovens famintos por conhecer o mundo corporativo, cheios de vontade de se desenvolver e gerar valor no mundo real.
Alguns resultados. Este curso formou pelo menos uma dúzia de alunos que acabaram sendo contratados pela empresa, todos eles pessoas da alta índole, como o amigo Marco Antônio Lima de Prado.
Além disso, a gente também sempre aprende com este processo.
Investir em pessoas cheias de vontade vale muito a pena.
Prezado Arnaldo,
Parabéns pelos seus textos, sempre muito elucidativos. Informe onde fica essa entidade que precisa de professor voluntário. Talvez possa ajudar, se for algo em São Paulo.
Aguardo.
Abraços,
Marco A. Olivera
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Olá Marco,
Que legal o seu interesse.
Este ano o ciclo de aulas se encerrou, mas certamente ano que vem tem mais.
Me passe o seu contato em asgunzi@icloud.com, que eu conecto com o responsável.
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eu quero ser voluntária, como faço?
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