Sobre idiomas na China e no Brasil

Sobre o idioma inglês

Quase ninguém fala inglês na China. No aeroporto e hotéis, sempre tem alguém que fala inglês. Executivos de cargo mais alto nas empresas também sabem falar inglês, alguns deles, muito bem. Analistas menores das empresas até arranham uma palavra ou outra, mas não são fluentes. O povo, em geral, não fala absolutamente nem uma palavra em inglês. Pensando bem, é mais ou menos como no Brasil, mas numa escala gigantescamente maior.

 

O jeito é se virar na mímica. Nas lojas, apontar para o que quiser. Nos restaurantes, apontar para o prato no menu. Teve uma vez que a moça perguntou se eu queria apimentado ou não (eu acho), e não consegui responder, nem ela entendeu nada. No final, fiz que sim com a cabeça, e veio um noodles bem apimentado…

 

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(Foto: cardápio de uma das lojas. Tudo na base da mímica)

 

O ser humano é muito bom em linguagem corporal, melhor do que a gente imagina. Dá para sobreviver na China, sem falar uma palavra em chinês – tendo dinheiro, é claro. De vez em quando aparece alguém para ajudar, mas é raro, bem raro.

 

A diferença no Brasil é que as pessoas são mais abertas, é muito mais fácil aparecer algum voluntário para ajudar um gringo.

 

 


Sobre o idioma chinês

 

 

Estudei chinês por um ano, e parei por falta de tempo, após nascer a minha filha número 2 (hoje tenho 3). Mas sei meia dúzia de palavras, bom-dia, boa-noite, e uns 100 hanzi (caracteres chineses) – e isto ajudou muito.

 

A gramática do chinês é fácil, e a tonalidade, aprende-se. O difícil mesmo são os caracteres. Há uns 20 mil caracteres, e para minimamente se virar, tem que dominar uns 3 mil. O efeito disto é que, para alguém ser alfabetizado na China, precisa gastar várias dezenas de anos estudando. Poucos são ricos o suficiente para tal, e o efeito é que há (e sempre houve) uma massa gigantesca de pessoas analfabetas na China.

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(Foto: caracteres chineses antigos. Foto tirada de exposição dentro da Cidade Proibida)
Caso:  Vimos um velhinho, na estação do trem-bala em Hangzhou. Ficamos uns 50 minutos na fila, infernal, uma desgraça, porque havia muita, muita gente querendo pegar os trens.

 

A estação de trens de Hanganzhou é a maior da China. É maior do que muitos aeroportos brasileiros. Exemplo, é maior do que o terminal de passageiros de Congonhas. Na China, é tudo big, mega, gigante.

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Tínhamos que pegar a fila, porque éramos estrangeiros e precisávamos apresentar passaporte para comprar o ticket. Do lado, havia uma série de maquininhas de auto-serviço. Um velhinho ficou ali, numa das maquininhas, este tempo todo. Meu amigo, Roberto Farina, pediu ao Manuel Netto, que fala chinês fluente, para ajudar o velhinho. Ele foi lá, perguntou se precisava de ajuda, e o velhinho foi embora. Um minuto depois, ele voltou, e lá estava ele de novo, mexendo nas maquininhas.

 

 

Provavelmente o velhinho não sabe ler. E pior, não confia em ninguém, não quer ajuda de ninguém, e também não vai ajudar ninguém.

 

 

Esta desconfiança, dizem alguns, tem as bases nas revoluções políticas ocorridas na segunda metade do século passado (Grande Salto para a Frente e Revolução Cultural), em que qualquer pessoa poderia denunciar atividades suspeitas de qualquer outra pessoa. O governo estimulava inclusive que pessoas da própria família denunciassem outras, de forma que o Partido era mais importante do que a família.

 

 

No ocidente, a princípio a gente confia em quem não conhece, e só desconfia quando esta não cumpre o prometido. Na China, é o oposto, a princípio desconfia, só depois de muito tempo é que se ganha a confiança da pessoa. Eu diria que no Japão é mais ou menos neutro, nem confia demais nem desconfia.

 

 

Em comum a todos os lugares, a confiança é muito importante. Não consigo trabalhar com quem quebrou a minha confiança.

 

 

Há uma palavra especial em chinês, Guanxi, que descreve relações de conhecimento e confiança.

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Sobre o idioma do futuro

Há muitas pessoas que dizem, “não sei por que pedem inglês no currículo, nunca usei inglês na empresa”. Ok, saber ou não outra língua é escolha de cada um, entretanto, sem outra língua, fecham-se duas portas: conhecimento e relacionamento.

 

A porta do Conhecimento: toda produção científica, política e cultural relevante está em inglês. O profissional que espera um livro ser traduzido para o português vai esperar três anos. Uma aula simples, digamos Álgebra Linear, vai ter 20 vezes mais opções de cursos e vídeos em inglês do que em português. O profissional que não sabe inglês vai sempre ficar muitos anos atrás de quem sabe e corre atrás.

 

A porta do Relacionamento: há 200 milhões de pessoas no Brasil, e 7 bilhões no mundo. O idioma universal é o inglês, qualquer reunião de alto nível entre pessoas de diferentes países será em inglês. Não é possível ter relacionamento sem comunicação, e o inglês é ferramenta básica.
Sobre o chinês como língua do futuro. Talvez não ocorra, porque os chineses de alto nível falam inglês. Mas, a cada ano em que a China ressurge como um império, cada vez mais eles verão com bons olhos aqueles que sabem o idioma deles.

 

O hanzi de China significa “país do meio”, e a cada ano, eles estão cada vez mais no centro do mundo. E têm tudo para ficarem mais milhares de anos como um dos maiores impérios do mundo.

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Gosto muito de um livro chamado Maus, que conta a história de Vladek Spiegelman. Sendo um judeu na Alemanha de Hitler, ele acabou num campo de concentração. Uma das coisas que o salvou, destacando-o da multidão, foi que ele sabia inglês. Perto do fim da guerra, estava evidente que os EUA venceriam a guerra. Um tenente alemão queria aprender inglês, e Vladek foi o professor de inglês dele. A sobrevivência, em troca das aulas de inglês. Conclusão: tem vantagem quem fala a língua do vencedor.

 

Linguagem é hábito. Linguagém é convivência e uso, se não usar, certamente a gente esquece. Por isso, é muito mais vantajoso usar o inglês como primeira língua: e-mails em inglês, livros em inglês, sistema operacional em inglês (ou na língua escolhida para estudar).

 

 

Outra coisa, é que a língua é apenas a forma de transmitir a mensagem. O conteúdo é milhares de vezes mais importante do que a forma. Tendo conteúdo, dá-se um jeito de fazer a comunicação. Não adianta falar inglês fluente, se não tiver o que falar.

 

Agora, imagine competir com alguém que tem o conteúdo e também a forma. Este estará numa vantagem competitiva enorme, difícil competir. Prefiro eu ser a pessoa com o conteúdo e a forma.

 

Conclusão: Inglês é o básico. Um executivo de alto nível tem que ter inglês fluente. Uma segunda língua é muito bom, ajuda bastante a abrir a cabeça e a fazer relacionamentos novos.

 

Foto tirada na Nanjing Road, um dos pontos turísticos mais legais de Shanghai. À noite, há uma multidão enorme de pessoas indo e vindo, como a rua 25 de março em São Paulo. A diferença é que a 25 de março vende só porcaria, enquanto a Nanjing Road é só artigo de luxo.

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2 comentários sobre “Sobre idiomas na China e no Brasil

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