O Crepúsculo dos Ídolos em 40 frases

O Crepúsculo dos ídolos, é um livro do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, publicado em 1889.

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O subtítulo “ou Como se filosofa com o martelo” já diz tudo: ele usa o martelo para atacar a filosofia, a razão, a moral, os costumes, destruir tudo.
“Ídolo com pés de barro” se refere a uma história bíblica: uma estátua, um ídolo, com a cabeça de ouro, peito de prata, pernas de ferro e pés de barro. Apesar de todo o seu resplendor, uma pedrinha rolando morro abaixo atingiu o seus pés de barro, e derrubou o ídolo. E é isto que Niezsche mais gosta de fazer: derrubar ídolos atacando os seus pés de barro, principalmente os maiores ídolos de seu tempo.

Gosto muito de Nietzsche, por ele ser provocativo e politicamente incorreto.

Segue abaixo alguns excertos do livro.


Prólogo

No mundo há mais ídolos do que realidades.

Este pequeno escrito é uma declaração de guerra, não se trata de ídolos contemporâneos, mas de ídolos eternos.

Posso fazer perguntas com o martelo e, talvez, ouvir como resposta aquele famoso som oco que fala das entranhas infladas – quão agradável para aquele que possui ouvidos por trás dos ouvidos, ante ao qual precisamente aquilo que gostaria de permanecer em silêncio, tem de ser ouvido alto e em bom tom.


Parte 1. O problema de Sócrates

Sócrates e Platão são sintomas de declínio, instrumentos da dissolução grega.

Sócrates pertencia ao povo mais baixo: Sócrates era plebe. Sabe-se inclusive quão feio ele era. Os antropólogos entre os criminalistas nos dizem que o típico criminoso é feio: monstro de aspecto, monstro de alma.

Em tudo Sócrates é exagerado, bufão, caricatura, e oculto, de segundas intenções, subterrâneo.

Com Sócrates, o gosto grego se modifica em favor da dialética. O gosto aristocrático é vencido com isso; a plebe ascende ao primeiro plano com a dialética.

Ele trouxe uma variante no combate entre homens jovens e adolescentes. Sócrates também era um grande erótico.

Sua apavorante feiúra o exprimia para todos os olhos: ele fascinou ainda mais intensamente como resposta, como aparência de cura para esse caso.

Sócrates fez da razão um tirano, e não é pequeno o perigo disto.

O modo com que Sócrates fascinava: ele parecia ser um médico, um salvador. É engano dos moralistas achar que é possível sair da decadência ao fazer guerra contra ela. Sair da decadência está fora de sua força, é novamente a mesma expressão de decadẽncia.


Parte 2: A “razão” na filosofia

Tudo o que há séculos os filósofos manejaram foram conceitos-múmia, nada de efetivamente vivaz veio de suas mão.

Outra idiossincrasia dos filósofos não é menos perigosa: ela consiste em confundir o último e o primeiro. Eles põem no início, como início, aquilo que vem no final – infelizmente!

Quatro teses:
1 – As razões pelas quais este mundo foi classificado como aparente fundamenta, muito mais, sua realidade. Uma espécie diversa de realidade é absolutamente indemonstrável
2 – As características que se deu ao “verdadeiro ser” das coisas são características do não ser, do nada. O mundo é aparente na medida em que é apenas ilusão ótico-moral.

3 – Fabular sobre “outro” mundo distinto deste não tem absolutamente qualquer sentido.

4 – Dividir o mundo em “verdadeiro” e “aparente”, seja da maneira do cristianismo, seja da maneira de Kant é apenas uma sugestão de decadência.


Como o “mundo verdadeiro” se tornou fábula

Abolimos o mundo verdadeiro: Que mundo restou? Talvez o mundo aparente? Mas não! Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente!


Moral como contranatureza

Todas as paixões possuem uma época em que são meramente nefastas, em que puxam para baixo suas vítimas com o peso da estupidez.

Atacar as paixões pela raiz significa atacar a vida pela raiz: a práxis da Igreja é hostil à vida.

O que é mais venenoso contra os sentidos não foi dito pelos impotentes, mas pelos ascetas impossíveis, por aqueles que haviam tido a necessidade de serem ascetas.

Para uma nova criação, como o novo Reich, ter inimigos é mais necessário que amigos: somente no antagonismo ele se torna necessário.

É ingenuidade dizer “assim e assim o ser humano deveria ser”.


Os quatro grandes erros

Não há erro mais perigoso do que confundir a consequência com a causa: é a autêntica corrupção da razão.
A fórmula mais universal que está na base de toda religião e moral, reza: “faz isso e aquilo, não faça isso e aquilo”. Este é o grande pecado da razão, a mortal irracionalidade.

Erro do espírito como causa, confundido com a realidade! E convertido em medida da realidade! E denominado Deus.

Erro das causas imaginárias – partir do sonho a uma determinada sensação, imputa-se retrospectivamente uma causa.

A doutrina da vontade foi essencialmente inventada com a finalidade de punir, isto é, de querer encontrar um culpado.

O cristianismo é uma metafísica de carrasco.

Qual é a nossa teoria? Ninguém dá ao ser humano suas características, nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e antepassados, nem ele próprio. Ninguém é responsável pelo fato de existir. Nós negamos a Deus, negamos a responsabilidade em Deus: somente dessa forma é que redimimos o mundo.


Os “melhoradores” da humanidade

Conhece-se minha exigência ao filósofo de colocar-se para além do bem e mal. Não existem absolutamente fatores morais. Moral é apenas uma interpretação de certos fenômenos, uma interpretação equivocada.

Em todas as épocas, se quis “melhorar” os seres humanos, a isso se chamou moral.


Sentenças

É preciso ser um animal ou um deus para viver sozinho – diz Aristóteles. Falta o terceiro caso: é preciso ser ambos – um filósofo…

Da escola de guerra da vida – O que não me mata me fortalece.

Ajuda-te a ti mesmo, e então todos ainda te ajudarão. Princípio do amor ao próximo.

Torna-se caranguejo quando se procura pela origem. O historiador olha para trás; por fim, acaba acreditanto também no para trás.

Desconfio de todos os sistemáticos e fujo do caminho deles. A vontade de sistema é uma falta de retidão.

Quão pouco se precisa para a felicidade! O som de uma gaita de fole. A vida seria um erro sem música.

O psicólogo tem de afastar a vista de si mesmo para poder enxergar algo.

Tu és autêntico? Ou apenas um ator?

Procurei pelos grandes seres humanos, e sempre encontrei apenas os macacos do seu ideal.

És alguém que só olha? Ou que se põe ao trabalho? Ou alguém que desvia o olhar, pondo-se de lado?

Queres caminhar junto? Ou à frente dos outros? Ou seguir o próprio caminho? É preciso saber o que se quer e que se quer.

O ser humano é um erro de Deus? Ou Deus é um erro do ser humano?


O MARTELO FALA

“Por que tão duro!” -falou ao diamante um dia o carvão: “não somos afinal parentes próximos?”
Por que tão frágeis? Ó meus irmãos, assim vos pergunto: vós não sois afinal – meus irmãos?
Por que tão frágeis, tão prontos a ceder e a amoldar-se? Por que há tanta negação, tanta renegação em vossos corações?
Tão pouco destino em vossos olhares? E vós não quereis ser destino e algo inexorável: como poderíeis um dia vencer comigo?
E se as vossas durezas não querem relampejar e cortar e despedaçar: como poderíeis vós criar comigo?
Todos os criadores são em verdade duros. E venturança precisa parecer-vos imprimir a vossa marca sobre milênios como sobre cera, –
Venturança de escrever sobre a vontade de milênios como sobre bronze – como sobre algo mais duro do que o bronze. Totalmente duro solitariamente é o que há mais nobre.
Esta nova tábua, ó meus irmãos, coloco sobre vossas cabeças: tornai-vos duros! –


Nota: Resumos têm uma utilidade resumida. Recomendo a leitura do livro inteiro para uma visão mais completa.

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