Por que dou esmolas?

Até os 30 anos de idade, nunca dei um centavo de esmola.

 

Moro em São Paulo e já morei no Rio de Janeiro. Nestas grandes metrópoles, o que mais se vê são pedintes: na rua, no trânsito, no ônibus, no metrô.

 

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Às vezes, dava pena. Um dia vi uma mulher de algum país latino com três filhos pequenos, próximo a uma feira-livre. Outro dia, um homem bem asseado parecia não estar mentindo quando pediu ajuda no metrô, para ele conseguir pegar um ônibus para casa – dizia que tinha sido roubado e esta era uma ajuda pontual. Mas eu mantinha a minha firme convicção de não dar esmolas.

 

Me perguntei de onde vinha tanta convicção. Era uma justificativa moral. Desde quando eu era criança, a minha mãe sempre dizia: “nunca dê esmolas”. “É ruim dar esmolas, porque acostuma o mendigo”. Esta mensagem, repetida à exaustão por inúmeros anos, era a minha base moral.

 

O interessante é que, para ratificar tal regra, juntei outras regras que surgiam. No metrô de SP, de tempos em tempos o alto-falante anuncia: “Não dê esmolas no metrô. Doe para uma instituição de caridade”. Além disso, vira e mexe algum especialista conta na TV alguma história de pessoas que não aceitam ajuda de instuições porque preferem ficar nas ruas, perpetuando o ciclo.

 

“Não darás esmolas” era uma regra moral no sentido de ser um tabela de condutas a serem seguidas, do que é certo ou errado. E era o metrô que dizia para não dar esmolas e eu só seguia as ordens, justificando que, no fundo, isto era melhor para o pedinte…

 

Contudo, com o passar do tempo, passei a questionar a moral vigente até então.

 

Qual o problema em dar esmolas? É claro que se o mendigo gastar em bebidas alcoólicas ou drogas, é ruim para todo mundo. Mas, e num caso em que a pessoa parece ser idônea? E se, a mãe fugiu do interior do Peru com três filhos e veio parar em São Paulo?

 

Doar para uma instituição de caridade é muito indireto, talvez a ajuda nunca chegue para a pessoa que precisa, da forma que precisa.

 
Não acho que haja uma regra absoluta, que valha para todos os casos, “Nunca doe” ou “Sempre doe”.

Passei a dar um pouquinho de esmolas, de pouco em pouco. No início, parecia que eu estava quebrando alguma regra, me tornando um “vilão moral”. Era um conflito entre convicções passadas e reflexões presentes. Eu tinha que trocar a tabela da verdade moral que me guiara por décadas. Apagar o mandamento antigo, “Não darás esmolas”, e escrever outro, “Darás esmolas sim”.

 

Das primeiras esmolas, percebi o seguinte. Para mim, felizmente, não faz a menor falta ter um ou dois reais a menos no bolso. Tive a sorte e condições de ter uma formação educacional forte e bons trabalhos em excelentes empresas. Entretanto, para quem não tem nada, um real pode significar muito: um lanche melhor, um suco, um pouco mais de conforto. Quem não tem nada está num ciclo vicioso de não ter qualificação e não ter potencial de empregabilidade, dificultando mais ainda a fuga deste ciclo. Como ensinar a pescar amanhã, se ele não tem como sobreviver hoje?

 

Minha nova regra é: dou o que tiver de moedas e notas pequenas, se a pessoa parecer ter um mínimo de idoneidade. Às vezes, também faço doações maiores para alguma instituição ou causa em que acredito. Dar esmolas não exclui contribuições para instituições de caridade, e vice-versa.

 

Não sei o que é certo ou errado, não tenho onisciência para saber se este ato vai ajudar ou prejudicar o pedinte. Não há certo e errado absolutos, e ninguém é onisciente. Portanto, sigo as minhas convicções.

 

Fiquei muito aliviado em ter esta nova regra moral quando, esperando o ônibus num ponto, passou um velhinho de uns 80 anos vendendo um plástico de guardar crachá. Ele não era um pedinte. Tinha dificuldades em andar, e vestia roupas amarrotadas. Provavelmente era alguém sobrevivendo humildemente com uma parca aposentadoria, tentando ganhar alguns trocados a mais, após passar a vida toda trabalhando. Pela regra moral antiga, eu simplesmente não compraria o plástico de crachá, afinal, eu não estava precisando. Pela nova regra, comprei o tal plástico. O velhinho disse: “Muito obrigado, filho”.
Reflexão 

Dar esmolas é bom ou ruim?

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