O que você quer ser quando crescer?
As crianças ouvem muito a pergunta, “O que você quer ser quando crescer?”. Obviamente, elas dizem qualquer coisa, “astronauta”, “piloto de fórmula 1”, “o Homem Aranha”, porque não têm a mínima ideia concreta do que serão.
Os adultos não ouvem tal pergunta, embora a grande maioria não saiba o que quer ser no futuro, quando “crescer”. O grande Peter Drucker dizia que ele não sabia o que queria ser quando crescesse, mesmo quando tinha 80 anos.
Entretanto, os adultos comumente ouvem uma pergunta diferente: “O que você faz?” “No que você está trabalhando?”. Esta pergunta é muitas vezes mais simples, porque é no tempo presente, e não no futuro.
Ao invés de “O que você faz?”, proponho uma pergunta diferente: “Qual o seu pitch?”
Discurso de elevador
Um discurso de elevador é uma conversa de uns trinta segundos, não planejada, com alguma pessoa para a qual queremos vender uma ideia. Tal qual o nome sugere, é como encontrar o presidente da empresa no elevador e explicar algo complexo e importante em poucas palavras.
O pitch tem que ser simples de ser entendido: ocupar a cabeça da pessoa receptora com uma ideia, a ideia principal, fácil de servir como referência.
E o pitch não precisa contar a história toda. Precisa apenas transmitir a ideia principal, o valor gerado e principalmente despertar a curiosidade da pessoa. Ou seja, servir como um gancho para chamar outra reunião mais detalhada, ou fazer com que ela acesse um site para mais informações.
Como diminuir o desperdício de comida no Brasil?
Vi uma apresentação de Lee Fu Kuang, que participou de um programa chamado Masterchef. Ele é formado em medicina, trabalha com oncologia, e gosta muito de cozinhar.
O pitch dele é: ensinar as pessoas a não desperdiçar comida.
Como? Mostrando que é possível fazer pratos extremamente saborosos e saudáveis utilizando ingredientes que ninguém usa (como nabo) ou joga fora (como a cabeça e o rabo do peixe).
Como? Usando o seu background em medicina para pesquisar qualidade de alimentos em laboratório. Por exemplo, receitas sem lactose para quem tem alergia. Outro exemplo: a folha da cenoura dá umas receitas boas, mas ninguém sabe exatamente o quanto de agrotóxico fica impregnado na folha. O laboratório gastrômico dele se propõe a fazer esta análise.
Este é o pitch de Lee.
E o que você faz? Qual o seu pitch?
Adendo
O pitch do Lee é tão interessante que desperta a curiosidade para saber mais:
Lee nasceu em Taiwan, e ele e os pais migraram para o Brasil quando ele era pequeno. A migração foi por motivos políticos, então eles vieram sem patrimônio algum.
Em países orientais como a China e o Japão, que passaram por épocas de fome terríveis em sua história, é comum tentar aproveitar o máximo da comida. A minha mãe, por exemplo, frita sardinha com cabeça e o rabo, e faz um excelente tempurá de folha de cenoura! O Brasil, talvez pela abundância de alimentos, talvez por cultura mesmo, desperdiça muita comida, ao mesmo tempo em que boa parte da população passa fome. A inovação de Lee é unir a cultura oriental de aproveitar alimentos com os pratos que são do gosto dos brasileiros.
Não sei se Lee vai ser bem sucedido em sua empreitada, mas pelo menos o pitch dele é muito bem feito, e a moqueca de cabeça de peixe parece muito boa!