Quando eu era adolescente, não gostava de gramática. Isto porque as regras gramaticais não têm uma lógica, pelo menos nenhuma lógica que fizesse sentido para mim. Tem mais exceções do que regras, e agora com a nova gramática (que nem conheço direito), talvez eu esteja escrevendo mais errado do que certo.
É interessante notar como uma criança fala. A criança não aprende regra gramatical nenhuma, não sabe a diferença entre sujeito e objeto, ou o tempo futuro do passado do pretérito perfeito. Mas a criança assimila todas essas regras e extrapola para o uso em todo lugar.
Anotei alguns “erros de português” de minha filha de 4 anos. Alguns desses são erros mesmos, outros poderiam ser chamado de erro de lógica da Língua Portuguesa.
Português da criança e Português “correto”
Eu sabo = Eu sei
Eu já fazi = Eu já fiz
Eu já di = Eu já dei
Eu já comei = Eu já comi
Eu tavo fazendo isso = Eu estava fazendo isso
Eu achavo que = Eu achava que
A boia cabiu = A boia coube
Meu pé esta sujado = Meu pé está sujo
Dá um sorrisa! = Dá um sorriso!
Sou campeana = Sou campeã
É legal também a generalização do uso de prefixos.
Quando eu destomar banho = quando eu sair do banho
Você desabaixou o jogo = você apagou o jogo
Perguntas que um adulto não faria.
Ouvindo Asa Branca, “Por falta d´agua perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”:
– Por que falta água no sertão? Coitado do alazão.
Ouvindo uma cantiga sobre a cobra que não tem braço nem pé:
– Por que a cobra não tem braço nem pé?
Quando ela tinha 3 anos, não conseguia entender algumas figuras de linguagem:
Vizinha: Oi gatinha,
Criança: Não sou gatinha não. Sou uma pessoa.
Com 4 anos, ela já entende este tipo de abstração.
A gramática seria muito mais divertida se fosse mais criança: criativa, flexível, questionadora, rebelde, peralta.
Qual o problema de sentar na mesa para comer? Ou assistir o jogo? Ao meu ver, o conteúdo da mensagem vale mais do que a forma. E desaprender é mais difícil do que aprender.
Prefiro falar de forma errada, mas fluída, do que correta de acordo com uma lógica que não tem lógica, uma deslógica.
Arnaldo Gunzi.
Nov 2015.
Em homenagem às múmias da academia, o poetinha Vinícius de Moraes, quando contestado sobre erros gramaticais em sua música.
https://ideiasesquecidas.wordpress.com/2014/10/19/imortal-de-verdade-x-imortal-da-abl/
Mais algumas:
Dona golfinha, dona girafa, dono papai.
Eu coloro tudo.
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Eu tinha aversão e a mesma opinião sobre língua portuguesa até conhecer um jovem, porém experiente professor carioca aqui em Roraima. Pesquisei e descobri outros raros nomes que ensinam com uma lógica até então inimaginada por mim.
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