“Preparados para o risco”, do autor alemão Gerd Gigerenzer, nos ensina a questionar os números, e com isso, tomarmos boas decisões.
Quatro highlights abaixo.
1 – Pergunte pelo significado.
“Amanhã, tem 30% de chance de chuva”. O que isso significa?
O 30% pode ter várias interpretações. 30% do dia vai chover. Há chance 30% de alguma chuva. No estado todo, vai chover em 30% da área…
Sem uma clara definição, não dá para saber o significado.

Exemplo: As manchetes dos últimos dias dizem que “a taxa de isolamento está em 49% e o ideal é 70%, segundo o governo”. O número é calculado a partir de rastreamento de celulares.
Mas, o que significa essa taxa de isolamento?
Se eu ficar em casa o dia inteiro, mas der uma voltinha, vai contar que estou furando o isolamento ou não?
2 – Pergunte pelos números relativos e absolutos
O autor cita uma manchete espalhafatosa: “Segunda geração de pílula anticoncepcional aumenta casos de trombose em 100%”.
A informação acima levou uma geração inteira de mulheres a evitar a pílula (e assim, aumentar a chance de gravidez).
Investigando o caso a fundo, num universo de 7.000 mulheres, os casos de trombose tinham aumentado de 1 para 2! Realmente, era um aumento de 100% nos casos, porém, são tão poucos casos que não há significado estatístico na conclusão citada. Ou seja, não havia motivo algum para o pânico gerado.
Como diz uma piada, “Estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem.”

3 – Regras de bolso podem ser úteis.
Num mundo cada vez mais complexo, as pessoas têm a impressão de que necessitamos de soluções igualmente sofisticadas. Porém, não há sistema que consiga levar em conta tantas incertezas de um número enorme de variáveis possíveis.
Nesses casos, heurísticas simples e robustas são mais eficazes. Exemplo. O avião que pousou no rio Hudson, em 2009, usou a regra do polegar. Fique de olho na torre, se ela sumir do para-brisa, não há como chegar à pista. Decidiram pousar no rio Hudson.
Menos é mais. Faça o simples. Utilize regras simples em ambientes complexos.
Da mesma forma, não compre produtos financeiros que não entenda.

4 – Falsos positivos e falsos negativos podem ocorrer.
Gigerenzer ensinou mais de 1000 médicos em sua carreira, e estima que 80% não entendem o que um exame médico positivo significa, por não entenderem o que é um falso positivo e um falso negativo.
Uma recomendação é refazer um exame diversas vezes, não acreditar puramente no primeiro resultado.
Uma consequência é a chamada “medicina defensiva”. Por receio de que os pacientes o processem, os médicos acabam tomando medidas superprotetoras, o que leva a procedimentos médicos desnecessários.
Uma heurística simples: Não perguntar ao médico o que fazer. Perguntar ao médico o que ele faria, se estivesse no seu lugar.
Conclusão: o livro apresenta questionamentos bastante válidos e cases interessantes. O mundo não sabe falar a linguagem dos riscos de forma adequada, e todos deveriam estudar mais o assunto.
Um exemplo final. Risco é diferente de incerteza. Para mensurar o risco (exemplo, risco de perder na loteria), tenho que ter um alto grau de certeza. Por outro lado, podemos estar despreocupados com o risco de algo incerto (digamos, uma epidemia mundial), até que, finalmente, esta acontece.
Agradecimento ao amigo Flávio Deganutti por me emprestar o livro e pelas discussões.
Links:
Link da Amazon para o livro https://amzn.to/3aqVxP2
Ja leu “O sinal e o ruído” do Nate Silver?
O livro é bem interessante e tem alguns capítulos que acredito que são bem pertinentes ao conteúdo do blog.
Até pegando o gancho com esse momento atual tem um capítulo que fala sobre previsões de epidemias.
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Olá Daniel. Já li um pedaço, mas não gostei muito. Mas vou deixar na lista de leituras. Att
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Para falar a verdade eu não gostei de algumas partes mas outras achei interessante. O bom é que o livro pode ser lido de forma independente. Eu reli o capitulo 07 (Um modelo a seguir) e ele é bem interessante. Fala sobre as falhas de previsões dos surtos do H1N1 nos EUA (1976, 2009). Também fala porque os modelos falham e na complexidade de se fazer projeções devido ao comportamento humano em diferentes sociedades. A parte final do capítulo traz boas reflexões. Se por ventura achar interessante fazer um texto a respeito até sugeriria o título: “Todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis” de um estatistico citado nessa parte.
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Boa reflexão, não poderia concordar mais. Valeu.
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