Esta é uma das ideias mais legais que já vi na minha vida.
Imagine um grupo de estudantes, muito jovens, num curso de inovação. O produto que saiu deste curso é uma mini-encubadora, projetada para ser utilizada em lugares pobres e remotos, como Índia, Bangladesh, Somália. Esta mini-encubadora é o “Embrace Infant Warmer”, que já foi utilizada para salvar mais de 50 mil crianças no mundo todo.
O Desafio
Existe um curso em Stanford, da Escola de Design Thinking, que se chama Extreme Affordability. O Design Thinking é uma metologia poderosa de inovação, e a finalidade deste curso é a de construir protótipos de soluções que ajudem pessoas em países em desenvolvimento. O protótipo tem que ser feito em algumas semanas, deve ser efetivo e de custo baixo.
O desafio da equipe do Embrace (Jane Chen, Rahul Panicker, Linus Liang, Naganand Murty, Razmig Hovaghimian)
era construir uma encubadora que custasse 1% do custo de uma encubadora tradicional. Eles não entendiam absolutamente nada de medicina ou das condições de vida de lugares pobres, mas correram atrás para entender.
Encubadoras
Encubadoras são utilizadas para aquecer e proteger bebês prematuros ou que nasceram muito magros.
Um bebê recém-nascido é extremamente frágil e requer muitos cuidados. Um bebê prematuro, ou que nasceu muito magro (o normal é nascer de 3 a 4 quilos, mas tem bebês que nascem com 2 quilos!) é tão pequenino que não consegue produzir calor suficiente para se aquecer. Uma das principais causas da mortalidade destes é hipotermia. Ficar à temperatura ambiente do ar para estes pequenos é como estar mergulhado num balde de água gelada.
Figura: encubadora tradicional
A encubadora é um equipamento que mantém o bebê aquecido aos 37 graus. Em lugares pobres e distantes, sem encubadoras, a chance de sobrevivência diminui muito.
Abordagem
Portanto, se o desafio era construir uma encubadora de baixo custo, era só pesquisar materiais mais baratos e tecnologias mais eficientes, correto?
Errado.
Um dos pilares do Design Thinking é a Empatia, que significa fazer exatamente o que o usuário precisa. Para isto, um dos alunos do curso comprou uma viagem ao Nepal, para fazer uma pesquisa de campo sobre o assunto. E ele descobriu o seguinte: Vários hospitais da região tinham encubadoras, e estas estavam ociosas. Mas, por outro lado, os problemas da mortalidade infantil existiam.
Algumas causas desta discrepância
- Falta de conhecimento dos pais sobre a importância de se ter cuidados especiais com crianças prematuras
- O hospital ficava longe, digamos 50 km, do vilarejo. E os pais não conseguiam ir ao hospital e deixar a criança lá por várias semanas
Portanto, apenas uma encubadora mais barata não resolvia o problema de forma efetiva. Era necessário mudar o próprio conceito de encubadora – não era o bebê ir à encubadora, mas a encubadora ir ao bebê.
O Embrace Infant Warmer
O Embrace é como se fosse um saco de dormir muito pequeno. Na base do Embrace, tem uma sacola com um gel à base de parafina. Há um equipamento elétrico que aquece o gel aos 37 graus. O gel fica aquecido por 4 horas. O custo de um Embrace é irrisório, 25 dólares. Outra vantagem é a de que permite o contato direto entre mãe e filho.
Outro pilar do Design Thinking é a prototipagem rápida, a fim de testar e evoluir o conceito. Os primeiros protótipos foram feitos, e o grupo terminou o curso de inovação com um protótipo funcional. Mas a ideia era tão legal que eles não poderiam parar por aí. Eles partiram para implementar de verdade e aperfeiçoar a solução proposta.
Eles fizeram parcerias com governos indianos e ONGs, e passaram a utilizar o Embrace em vilarejos distantes destes locais.
Outro passo, tão ou mais importante quanto, foi criar formas de conscientizar as mães sobre as causas da mortalidade infantil, ensinar sobre as posições corretas para aquecer o bebê com o corpo e ensinar a usar o Embrace. Ou seja, se fosse numa empresa, diria-se que eles trabalharam o produto e o processo.
O resultado é que até 2015 mais de 50 mil crianças foram ajudadas com o auxílio do Embrace, tendo potencial para ajudar milhões de outras crianças, nos lugares mais carentes do mundo.
O que eu posso fazer para ajudar?
Uma das coisas mais importantes é ter a noção de que podemos sim mudar o mundo. Uma única pessoa pode fazer a diferença, com vontade, determinação, correndo atrás. O mundo precisa de criatividade, de ideias boas, pessoas que inovem em processos, produtos, e no próprio trabalho.
No caso específico do Embrace, pode-se apoiar, acompanhar e divulgar o trabalho deles http://embraceglobal.org/embrace-warmer/.
Pode-se ajudar doando Embraces. A cada 50 dólares, pode-se doar uma Embrace e um curso de instrução para a mãe. https://giving.embraceglobal.org/checkout/donation?eid=30516
Resultados
Para um pai e para uma mãe, não existe nada mais bonito no mundo do que o sorriso do filho. Estas fotos foram tiradas do blog da Embrace.
Fontes:
http://embraceglobal.org/embrace-warmer/
Confiança Criativa, Tom & David Kelley
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