É com muito pesar que recebo a notícia do falecimento do amigo Marcos Gabriel Braz de Lima, com apenas 24 anos. Era um jovem extremamente curioso, que corria atrás para fazer acontecer e tinha um futuro brilhante pela frente.
Tudo começou quando me chamaram para ver a entrevista dele. “É uma pessoa fora da curva, dá uma olhada” – disse meu amigo Felipe Faria. E, realmente, ele tinha um brilho nos olhos ao ouvir sobre os trabalhos que fazíamos.
Ele acabou indo para a unidade de Santa Catarina, e ajudou a melhorar os trabalhos ali. Ele fez uma rotina em Python que automatizava um processo manual que eles faziam, por exemplo.
Era um jovem com muitas dúvidas, sobre vida, carreira. Sempre tive diálogos de alto nível com ele. Reproduzo alguns pontos abaixo, para imortalizar a sua memória.
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Sobre habilidades soft x hard.
Ele tinha ouvido uma palestra, que enfatizava a importância do soft skill. Porém, na visão dele, toda a sua trajetória até então tinha sido voltada mais para o hard skill.
Minha resposta foi que tem lugar para todo tipo de gente no mundo. Ele tem que ser fiel à si mesmo, não adianta tentar emular outra pessoa.
Há habilidades principais e acessórias. O núcleo tem que ser o que ele é melhor, o seu ponto mais forte. Se for hard, que seja. Tem trabalhos necessariamente muito hard skills. Uma otimização combinatória pesada, vai ser hard, não tem jeito.
Ex. Se a pessoa é nota 7 em hard e 3 em soft, é melhor tentar ser 10 em hard e 5 em soft (o mínimo para passar de ano), do que tentar focar só no soft. Vai acabar com 5 em hard e 5 em soft, ou seja, será alguém mediano.
Habilidades acessórias são importantes para complementar a formação, ter o mínimo.
Habilidades importantes que recomendo para todo mundo são de comunicação e negociação. Há vários cursos gratuitos na internet sobre ambos. Todo mundo precisa dessas duas habilidades.
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Sobre estudos.
“Sempre gostei de aprender coisas novas. Meus amigos acham que eu sou um pouco doido porque estudo muito. Costumo passar férias e finais de semana estudando coisas novas. Mesmo na faculdade, com carga horária muito pesada, quando aparecia uma folga, eu ia estudar alguma coisa que tinha muito interesse, pelo simples prazer de aprender mesmo.”
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Sobre projetos.
Ele estava gerenciando um projetinho de RPA (robot process automation), e estava se perguntando quando chegaria a fazer projetos grandes, de nível nacional.
“Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Até porque são elas que nos movem, né? Respostas são importantes, mas nem tanto assim…”
Minha resposta foi que o mundo é cíclico e não-linear.
Você faz um excelente trabalho puramente técnico hoje, daqui a pouco vai estar fazendo trabalhos maiores e maiores. De repente, vai estar dando saltos, gerenciando projetos enormes, sem nem perceber.
Então, faça o melhor possível, seja o trabalho pequeno ou grande. Aprenda com o projeto pequeno, pense em formas de escalar o mesmo.
Ajude os outros a evoluir, isso volta para você de alguma forma, um dia.
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Sobre filosofia.
Sendo alguém muito curioso, ele gostava de estudar economia, ciências, tudo. Naturalmente, a filosofia é o tema final, do sentido das coisas. Estudar filosofia é muito bom, mas a pessoa tem que ter alguma bagagem, tem que ter passado por algumas etapas da vida. Na minha visão, todo mundo deveria estudar filosofia ao completar 40 anos.
A última mensagem que tenho do Marcos Gabriel é:
“Não vejo a hora de completar meus 40 anos para começar a estudar filosofia.”
Obrigado por tudo, Marcos.
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https://ufla.br/noticias/institucional/14214-nota-de-falecimento-estudante-marcos-gabriel-braz
sem duvidas foi um ser humano fora da curva, não so na sabedoria, mas principalmente pelo seu lado humano.
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