Subtítulo: A verdadeira guerra dos clones.
Como algo que não tem sementes se reproduz? A resposta é que parte dos bulbos da bananeira é cortada, fazendo mudas, que são replantadas.
A bananeira se propaga vegetativamente. Cada nova cópia é um clone estéril. A banana não faz sexo e nem tem variação genética há milênios.
Ora, mas se é assim, porque a bananeira produz frutos, se esses são inúteis? Por que gastar uma quantidade enorme de energia, produzindo frutos grandes, carnosos e sem sementes? Puramente para o deleite dos seres humanos?
A resposta é que a banana comercial dos nossos tempos é fruto de seleção artificial.
As bananas selvagens tinham sementes no seu fruto. A foto a seguir ilustra este fato.

A primeira banana comestível, sem sementes, surgiu há cerca de 10 mil anos, no sudeste asiático. O ser humano passou a cuidar desta espécie valiosa, e a carregar para onde ia, e este exército de clones o ajudou a dominar o mundo. O poder nutricional da banana foi extremamente útil na colonização das Américas.
Uma vantagem dos clones é a consistência de sua qualidade, afinal todas as cópias têm exatamente o mesmo DNA. A banana de hoje é a mesma de milênios. Nos dias de hoje, a espécie Cavendish representa 99% de todas as bananas comercializadas no mundo. No Brasil, ela é conhecida como banana nanica.
Uma grande desvantagem é a suscetibilidade à doenças, pragas ou variações climáticas. Se uma praga ataca um indivíduo, esta atacará facilmente toda a população. Isso, somado a milênios de evolução, torna a banana um alvo fácil.
Na verdade, essa história é tão consistente que já houve uma espécie de banana chamada Gros Michel, que era dominante até os anos 1950. Um fungo, o Mal-do-Pananá, dizimou as plantações dessa espécie, o que obrigou os produtores a adotarem outro clone, o Cavendish.
Entretanto, a natureza evoluiu, enquanto a banana, não. Uma evolução do fungo do Panamá ameaça a Cavendish, atualmente. É uma questão de tempo, sejam dezenas ou centenas de anos, para surgir na natureza alguma praga ou doença que dizime o nosso exército de clones.
Sem reprodução sexuada, fica extremamente difícil inserir modificações genéticas. Projetos de pesquisa para aprimorar a banana se tornam extremamente caros, com resultados incertos.
Fazendo uma analogia, para ilustrar o quão artificial foi a seleção. É como se um ET, ou um Titã, pegasse toda a população de seres humanos da Terra, escolhesse um indivíduo alto, obeso e sem testículos (digamos, 1,95 m com 250 Kg), e clonasse o mesmo indivíduo à exaustão. Como este não se reproduz, o Titã fica responsável por reproduzir clones via métodos artificiais.
Pelo indivíduo ter uma série de problemas, digamos diabetes, pressão alta, dor nas juntas (as características boas para o Titã não são necessariamente boas para a pessoa), ele deve receber uma dose maciça de cuidados, como remédios diversos.
O Titã e o exército de clones dominaram a face da Terra, a ponto de substituir quase todas as outras pessoas. Porém, a natureza é maior do que o Titã, e uma doença, digamos uma super gripe, começa a dizimar o seu clone favorito. Por todas as cópias serem iguais, a super gripe encontra um terreno fértil e abundante.
O Titã, vendo isso acontecer, primeiro dobra a dose de cuidados em seu clone (mais remédios), depois, tenta desenvolver resistência genética à gripe. Ele pega o punhado de seres humanos normais que sobraram, para estudar. O clone não consegue mais fazer sexo, há milênios, e seus parentes são pessoas mirradas de 70 Kg e 1,70 m, pouco atrativas ao Titã.
Há poucas alternativas. Ou surge outro clone interessante dessa população de seres humanos, ou ele deve pegar um gene resistente de algum desses mirradinhos e inserir em seu clone. Note que é uma tarefa extremamente complexa – seria muito mais viável se, desde o início, toda a população tivesse evoluído naturalmente.
Links.
https://www.conservationmagazine.org/2008/09/the-sterile-banana/
https://www.thedailymeal.com/eat/why-don-t-bananas-have-seeds
http://plantproject.com.br/novo/2018/08/global-a-luta-para-salvar-as-bananas/
https://www.yarabrasil.com.br/conteudo-agronomico/blog/tipos-de-bananas/
A Quest for the Gros Michel, the Great Banana of Yesteryear – Gastro Obscura (atlasobscura.com)
Curiosidade: A banana tem semente? – Estudo Prático (estudopratico.com.br)