“O colapso das sociedades complexas”, de Joseph Tainter, sustenta que a complexidade tem um custo orgânico. Sociedades complexas demais podem implodir, por não ter energia suficiente para sustentar tal organização.
O case ilustrativo é o do Império Romano, que cresceu adquirindo outros reinos ao redor, até chegar num ponto em que sustentar o aparato militar e administrativo se tornou um fardo tão pesado que o deixou vulnerável a ataques.
O crescimento das sociedades
As sociedades antigas eram muito simples, pequenas, com poucas distinções além das biológicas (como idades e sexo). Tais sociedades tinham poucas dezenas de profissões. Para efeito de comparação, estima-se que atualmente haja de 10 a 20 mil profissões.
O colapso é uma simplificação abrupta da sociedade.
A complexidade
A complexidade se manifesta através da criação de controles e estruturas para fazer a vida mais simples. Deste ponto de vista, a complexidade serve para simplificar.
Por que as sociedades ficam mais complexas?
Porque é isto bom para resolver problemas igualmente complexos.
Ex. O ataque terrorista de 11/09/2001 gerou mais controle, mais regulação, mais agências; tudo isso pago com impostos da sociedade, ou o tempo e energia de pessoas, com mais filas e burocracia nos aeroportos.
Exemplo de sociedades estudadas pelo Dr. Tainter:
- Império romano
- Império Hitita da Anatólia
- Império Zhou do sudoeste (China)
- Reino antigo do Egito
- Povos do norte do México
- e muitos outros

A Complexidade é uma função econômica
A complexidade não é gratuita. Ela tem um custo metabólico, em analogia aos corpos de animais. Um ser humano tem complexidade e custo metabólica infinitamente maior do que uma mosca, por exemplo.
No caso da sociedade, tais custos se traduzem em tempo, dinheiro e energia.
Antes da era dos combustíveis fósseis, as pessoas tinham que trabalhar mais para sustentar o acréscimo de custos.
O ciclo do aumento da complexidade:
– Traz benefícios,
– Aumenta custos,
– A cada ciclo, há diminuição do retorno.

Espiral energia-complexidade
A complexidade precisa de energia.
Energia sobrando leva a mais complexidade, dada a inventividade do ser humano.
Caso: o colapso do Império Romano
O Império Romano cresceu conquistando províncias, sustentada por pilhagem, taxas e pressão inflacionária.

Pilhagem é a captura da energia do passado, na forma de metais, arte, armas, pessoas etc. Porém, essa captura é de curto prazo, só pode ser feita uma vez no mesmo local. A conquista gera riqueza, entretanto é necessário conquistar mais para continuar crescendo.
Para manter os territórios e conquistar outros, é necessário um crescente aparato militar e administrativo. Isso leva a um aumento do exército e de funcionários.
Na época de Roma, a fonte definitiva de energia era o Sol.
A agricultura tem o seu limite de produção, e fazendeiros produzem pouco excesso per capita.
Outra fonte de recursos eram os altos impostos, tão altos que os fazendeiros não eram capazes de acumular reservas – então não podiam suportar grandes famílias.
Quando uma família não conseguia pagar as altas taxas, outras famílias tinham que compensar. Havia casos de vilas inteiras que tinham que pagar por outras.
Uma terceira fonte de financiamento era a inflação. A hiperinflação (tão conhecida dos brasileiros pré-plano Real) mostrou suas garras em Roma, corroendo o valor do denário da população. A inflação é uma forma de assaltar a carteira das pessoas sem apontar uma arma em suas cabeças, mas com efeitos igualmente perversos.
Declínio populacional, pragas, crises, ataques externos e guerra civil constante levaram Roma à bancarrota.
A complexidade causa danos sutis, imprevisíveis e cumulativos.
A sociedade pode ser destruída pelo custo de se sustentar.
Conseguiremos superar limites?
Passamos milhares de anos sem inovar, ou com pouquíssimas inovações.
Mas, no mundo atual, a inovação está presente, e é central no dia-a-dia.
Achamos que sempre podemos superar os limites a partir da inovação. Será a tecnologia suficiente?
Palavras do pesquisador Nicholas Rescher: a pesquisa está se tornando cada vez mais complexa, com retornos decrescentes.
Uma taxa constante de inovação precisa de mais e mais recursos.
As descobertas fáceis, o fruto baixo a ser colhido, já o foi. Antigamente, o inventor era um pensador solitário que fazia descobertas na garagem de casa. Hoje, os times de pesquisa são enormes e multidisciplinares, exigindo equipamentos e instalações de milhões de dólares.
Em saúde, em especial remédios, há custos cada vez maiores para retornos menores.
Gastos militares crescem em equipamentos cada vez mais sofisticados.
É possível que o planeta Terra inteiro tenha se tornado algo comparável com o Império Romano… Devemos tomar cuidado para a complexidade não nos engolir.
Ideias técnicas com uma pitada de filosofia
Show de bola. Muito bom o estudo do Tainter.
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