Vi recentemente uma polêmica acerca de uma certa Bettina.
Para quem não conhece, a propaganda diz que Bettina, uma jovem de 22 anos, partiu de mil e quinhentos reais e fez um milhão de reais no mercado financeiro.
É uma propaganda de um grupo que insinua que todos conseguem fazer isto, seguindo os mandamentos deles, é claro.
O problema é que a história da Betina é fake. É apenas inspiracional. Assim é fácil… poderiam ter dito logo que ela fez 150 milhões, que era o novo George Soros, o novo Warren Buffet.
Eu já acho forçado demais pegar o best in class, a pessoa que mais ganhou de todos, e apresentar este como o benchmark, um exemplo de que todos podem chegar no mesmo nível – é claramente impossível, porque se todos fossem vencedores, todos seriam medianos, e assim não haveria vencedor.
Pegar um best in class falso é muito mais forçado… ainda mais num país onde apenas 1% dos que fazem day trade têm lucro, conforme demonstra este estudo recente: https://cointimes.com.br/e-possivel-viver-de-day-trade/.
Porque o fake storytelling provoca tantas reações negativas? Não é só inspiracional mesmo?
Minha explicação remonta à 2,4 mil anos no tempo. A Retórica de Aristóteles dizia que há três modos de persuasão: o Ethos, o Pathos e o Logos.
O Logos se refere à parte lógica do argumento para convencer alguém.
O Pathos se refere à parte emocional. É aqui que entra fortemente o storytelling. Quando é feita uma personificação, quando não é um ensinamento abstrato qualquer, mas uma pessoa de verdade, uma jovem brasileira de 22 anos, muito mais próxima de nós, afeta fortemente a emoção, o pathos. É por isso que o storytelling é tão poderoso.
O melhor agora, o Ethos. O Ethos se refere ao lastro disto tudo, à autoridade que o narrador tem para contar a história. Um George Soros tem autoridade enorme para falar qualquer coisa, concordemos ou não. Pelo menos, ele juntou alguns bilhões de dólares…
No caso citado, do fake storytelling, o Ethos caiu por terra. Que moral a personagem tem para falar sobre o tema, se ela estava apenas interpretando um papel? E, caindo o Ethos, cai também o Pathos, porque na parte emocional ninguém é pato para engolir essa historinha fake.
Portanto, ao invés de utilizar os três modos de persuasão para fortalecer a mensagem, dois deles saíram pela culatra.
É o mesmo caso da Diletto e do Suco do Bem, cases famosos pelo storytelling forçado.
O Ethos é infinitamente mais difícil de conseguir, e portanto, muito mais difícil de falsificar.
Links:
Ideias técnicas com uma pitada de filosofia
https://ideiasesquecidas.com/2018/09/07/ethos-pathos-e-logos/
Embora eu não tenha visto mal no marketing da Betina, por entender o que é o marketing, e ter visto a série, que era gratuita, concordo com a sua visão. Ela é edificante. Obrigado.
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