Estamos em junho de 2018. Livros em papel e livrarias já morreram. Isto nem é um forecast, é uma realidade. É tão óbvio quanto falar que a TV a cabo, jornais em papel, revistas em papel tradicionais morreram com as novas tecnologias.
Só comento sobre este assunto por uma única razão: este post seria mais um capítulo da série de forecasts, porém é um forecast que já aconteceu. Eu adoro livrarias e livros, e sinto demais esta perda.
Um dos meus passeios favoritos é o de ir à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, que ostenta milhares de títulos, numa área com três andares, café, e que provavelmente é a maior livraria da América do Sul.
Ou andar pela Saraiva MegaStore, do Shop. Ibirapuera ou do Shop. Center Norte.
Ou a loja fantástica da Fnac em Pinheiros, com arquitetura ousada, pensada para ser um ponto de encontro entre amantes das letras, numa região cult da cidade… opa, a Fnac Pinheiros acabou de fechar as portas… a empresa Fnac, que vendia eletrônicos e livros, está saindo do Brasil.. (https://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/caminhadas-urbanas/o-fechamento-livraria-da-fnac-pinheiros-um-raro-exemplo-de-arquitetura-comercial-a-favor-do-espaco-publico-na-cidade)
As grandes livrarias nacionais estão sofrendo, há anos, com estagnação e declínio, a olhos vistos. A razão é simples. A informação não precisa mais do papel para ser transmitida. Ela está à disposição para ser produzida, consumida e atualizada em qualquer tela, seja a TV, o celular, o notebook, o ereader, o tablet.
A informação virou commodity. Antigamente, para estudar Cálculo, eu precisava de um livro de Cálculo. E era comum recorrer à famosa xerox do livro, porque o original normalmente custava caro demais para um estudante universitário bancar.
Hoje em dia, há dezenas de sites sobre o assunto, vídeos do Youtube, tutoriais, exercícios resolvidos, tudo de graça e num excelente nível, como por exemplo, na Khan Academy.
A xerox dos dias atuais são os serviços de torrent, ou troca de pdfs dos livros, ou alguma outra forma de copiar digitalmente o assunto.
Além disso, para tópicos avançados, posso consultar direto o blog do autor que é o papa do assunto. Ou, talvez, enviar um e-mail direto para este autor. Ou discutir a questão com outros amantes do assunto, num fórum. Ou pegar os artigos mais relevantes no Arxiv.
Um exemplo. Vi o excelente livro “Linear Programming”, do autor Robert Vanderbei, na Livraria Martins Fonte. R$ 399,00. Tenho a mesma versão em pdf, a um custo zero, que leio num dos meus ereaders (tenho um Kindle e um Kobo Reader) – mas poderia ler num iPad, ou no computador, ou imprimir a parte que interessa.
O preço de R$ 399,00 é porque o livro é impresso nos EUA (livros físicos têm que ter uma demanda mínima para justificar a impressão), transportado ao Brasil, incluindo todos os trâmites da importação e deve pagar o custo físico da loja ao expor o mesmo fisicamente (aluguel, salário dos atendentes).
A versão eletrônica do mesmo ocupa 1 MB de espaço em disco, e não acarreta custo logístico algum, nem de importação; por mais que eu goste das livrarias e do livro, é um disparate pagar R$ 399,00 por algo virtualmente grátis.
Exemplos abundam, e mesmo se o livro custar R$ 50,00 ou mesmo R$ 30,00, não dá para competir com a versão digital.
O efeito é que atualmente as livrarias pagam para existir, e algumas ainda teimam em tentar se reestruturar.
A LaSelva, que era bastante presente em aeroportos, está fechando as portas.
A Saraiva está há muitos anos mal das pernas, e é uma questão de tempo até sofrer alguma reestruturação dramática.
A Fnac já saiu do Brasil, sendo adquirida pela Livraria Cultura.
A Livraria Cultura não está muito bem das pernas.
Este fenômeno não é exclusivo do Brasil. Em todo o mundo, o mesmo. A fantástica Barnes e Noble da 5a avenida, em NY, uma das livrarias mais legais do mundo, fechou as portas em 2014. Lembro muito bem disto, porque foi entre a minha primeira e segunda visita aos EUA, então eu conhecia a mesma da primeira visita, e quando voltei para procurá-la, não a encontrei mais.
O mesmo ocorreu com a Borders, uma rede tipo uma Saraiva americana, que fechou as portas.
Isto sem citar inúmeras outras redes de livrarias, que devem ter destino semelhante se já não o tiveram.
O que deve ocorrer é que somente lojas de nicho, extremamente enxutas, devem ser capazes de sobreviver. Ou versões mais on-line do que físicas de fato. Seja como for, a tendência é sobreviver com faturamento muito mais modesto do que nos anos de glória que jamais retornarão.
Os sebos, então, nem se fala. Se as livrarias estão obsoletas, os sebos, que comercializam livros usados, têm um futuro menos promissor ainda. Os que não fecharem as portas devem sobreviver apenas em nichos.
Talvez, num futuro não tão distante, uma prateleira de livros seja apenas para impressionar visitantes, e o comércio de livros seja algo como o comércio de LPs, algo que existe mais como nostalgia do que por necessidade.
O espaço do Conjunto Nacional já abrigou uma grande rede de cinemas, o cine Astor (fui lá uma vez, nos anos 80). Os cinemas de rua entraram em declínio, várias virando igrejas evangélicas. As do Conjunto Nacional deram origem ao espaço agora ocupado pela Livraria Cultura. O que será no futuro, não sei, cedo ou tarde os livros darão lugar a algo diferente. Mas, quando isto ocorrer, eu posso dizer que foi bom enquanto durou. Obrigado à livrarias e livreiros, e bola para frente.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Concordo que livraria estão com os dias contados se não começarem a agir como a amazon.
Mas os livros físicos não. Todo mundo pensou que seria o fim deles, mas depois do impacto inicial, o cenário se mostrou bem diferente. O livro digital é um produto de nicho, a maioria das pessoas ainda prefere o livro físico.
https://oglobo.globo.com/economia/negocios/livro-digital-perde-brilho-fica-com-so-3-do-setor-20220925
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Espero que você esteja certo, e que pelo menos os livros sobrevivam.
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Outra coisa, o concorrente do livro físico não é apenas o livro digital. São os inúmeros sites, blogs,
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