Em 1998, o professor doutor Carl Hermann Weis aplicou uma prova de química, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, onde havia a seguinte questão:
Qual o comprimento de onda de uma bola de futebol de massa m, numa velocidade v?
O prof Weis era considerado o maior eletroquímico do mundo na época, deu aulas no ITA por várias décadas, era uma espécie de lenda viva. Exemplo: por conta de uma prova antiga de Weis, os veteranos faziam a gente decorar era o nome completo do químico Paracelsus: Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim.
Voltando à questão do comprimento de onda da bola. É claro que a acertei, senão não estaria aqui falado sobre ela. Mas acertar a questão significava decorar a fórmula certa, interpretar as variáveis e aplicar a mesma, de forma mecânica. Não tínhamos tempo para compreender o que isto significava.
São conceitos bem esquisitos envolvidos.
- Uma bola é algo físico. É matéria, tem peso, dá para tocar. É um tijolinho, um átomo no sentido de Demócrito.
- Frequência e comprimento de onda são conceitos de ondas: energia elétrica, som, luz, ondas de rádio.
Matéria não tem comprimento de onda ou frequência. E uma onda não tem peso, não dá para tocar ou chutar.
Uma bola de futebol não é um sinal de TV… Era o que se pensava, até que, no começo do século passado, a teoria quântica sugeriu que a luz se comporta ora como partícula, ora como onda. Era a dualidade onda-partícula.
Portanto, a luz era uma onda eletromagnética, mas de vez em quando era partícula também. Ora era como luz ora como uma pedrinha minúscula.
Albert Einstein foi um dos primeiros a tentar explicar um comportamento estranho da luz utilizando o fato de que às vezes esta é uma onda, às vezes uma partícula. Einstein tem um prêmio Nobel de Física, mas o ganhou por conta do efeito fotoelétrico, não por causa da Teoria da Relatividade.
Ok, essas coisas esquisitas ocorrem a nível de partículas subatômicas, então isto não muda nada na nossa vida… será?
Até que, nos anos 1920, um candidato a doutor na Universidade de Sorbonne, França, chamado Louis de Broglie, apresentou uma tese muito mais maluca. Já que a luz é uma onda e pode ser partícula às vezes, o inverso pode ser verdadeiro também.
Uma partícula, como uma bola, também pode ser comportar como onda, como a luz. Ele estendeu o comportamento bizarro da luz para todas as partículas.
A tese foi rotulada como maluca, e não foi aceita. E também era muito simples, poucas páginas, e acadêmicos gostam mesmo de um bostejo infinito que não leva a nada.
Até que de Broglie enviou a mesma para Einstein, que achou a ideia genial. Com o suporte de Einstein, o pessoal da Sorbone aceitou a tese, e anos depois de Broglie ganhou um Nobel de Física.
Voltando à pergunta da prova, a resposta da mesma era aplicar a equação de de Broglie. E ela também mostra que a hipótese do de Broglie vale para todos os objetos, inclusive os macroscópicos!
Esta ideia de dualidade dá margem a várias especulações possíveis.
- Se somos feitos de partículas sólidas, mas tais partículas podem ser ondas, então podemos ser ondas de vez em quando?
- Seríamos feitos de energia, uma energia confinada? Mas, o que é energia exatamente? Uma onda congelada? Ou a onda é uma partícula livre?
- O que é um pensamento? É um monte de sinais elétricos em nossa cabeça, indo e vindo por redes neurais? Mas, sendo ondas, seria possível que a nossa cabeça entre em ressonância com outras ideias e outras cabeças que estão no ar, assim como ondas de rádio? Seríamos feitos de pensamento?
- Ou seria como disse Buda, “Nós somos o que pensamos”.
- Será que existe a alma? Um corpo que acabou de morrer tem exatamente o mesmo número de átomos de um corpo vivo. Mas há algo diferente, porque o corpo não se mexe sozinho. Esta alma, seja o que for, não é material, não tem peso. Seria uma espécie de onda? Seria alguma outra coisa que não temos a menor ideia do que seja? Aliás, isto também tem um nome, dualidade corpo-alma.
Lembrando que tudo aqui é teoria. Pode ser que, no futuro, surjam outras.
Citando Shakespeare, “Há muito mais no Céu e na Terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
O prof Weis faleceu em 2013, segundo o site do Wikita. Ele sempre dizia que deveria viver duas vezes, uma para estudar e outra para ganhar dinheiro. E esta vida ele tinha utilizado para estudar. Quem sabe, na próxima!
Nota: Não lembro se realmente tal questão caiu numa prova ou a fonte foi um bizu antigo. Mas coloquei que acertei a mesma, porque acertaria na época. Tem a resposta deste site.
Outros links:
https://en.wikipedia.org/wiki/Louis_de_Broglie
http://www.aeitaonline.com.br/wiki/index.php?title=Aulas_do_Prof_Weis
http://www.aeitaonline.com.br/wiki/index.php?title=Carl_Herrmann_Weis
São idéias muito doidas mesmo.
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