Plantar x Colher
Existe uma assimetria importante entre plantar e colher. E o que está no meio da assimetria é um fator extremamente pesado, que se chama Tempo.
Esta semana, eu e equipe envolvida estamos completando um trabalho muito importante. Mas este trabalho não começou ontem. Começou há mais de dois anos atrás, na forma de uma ideia amplamente debatida. Esta ideia gerou os primeiros passos, que envolviam obter e tratar dados. Este primeiro passo sozinho consumiu mais de 6 meses de trabalho só para deixar tudo corretamente encaminhado.
Um segundo passo foi a criação de um protótipo que fizesse exatamente o que a gente queria. E lá se foram mais alguns meses desenvolvendo, e outros tantos testando. Por fim, finalmente traduzir este trabalho para uma plataforma mais completa, final, que envolveu outros tantos meses pensando, trabalhando, aperfeiçoando.
As pessoas chegam e saem no meio do caminho. E, quem não sabe, pode dar o crédito somente ao elo final do trabalho. Mas, para tal elo final existir, foram necessários muitos elos básicos, desde o início até o fim.
Pode-se vender a mesma ideia para duas pessoas, mas ter resultados completamente diferentes no final das contas. As coisas que dão certo, não são por acaso. Não se pode olhar apenas para o resultado final.
O EBITDA trimestral
O mundo está cada vez ficando imediatista. Mede-se o desempenho do presidente de uma empresa pelo EBITDA trimestral, da mesma forma que se mede um técnico de futebol pelo placar da rodada: se perder três jogos seguidos, troca-se o técnico. Desta forma, contanto que o EBITDA continue bom, tudo está correndo bem, mesmo que uma empresa mal intencionada esteja empurrando para debaixo do tapete uma bola de neve de adversidades que vão cobrar o seu preço num futuro não tão distante.
O grande problema do tempo é que quem planta não é necessariamente quem colhe. Aliás, os melhores investimentos são os de longo prazo, onde certamente quem colhe não é o mesmo que plantou.
O Brasil de Lula colheu os resultados do Plano Real de Fernando Henrique Cardoso, que domou o dragão da hiperinflação e finalmente colocou o país no rumo que ele merece trilhar. O Brasil de hoje, que quase saiu dos eixos, é fruto de 13 anos de políticas populistas, imediatistas e sem fundamento. Neste exato momento, estamos novamente entrando nos eixos, aos poucos, com um gestão muito mais responsável.
O ser humano tem extrema dificuldade de conviver com o tempo. Nós valorizamos muito mais o presente do que o futuro. Isto é bastante justificável, uma vez que não existe o longo prazo para quem não sobreviver ao curto prazo. O homem de neandertal precisava comer hoje, ao invés de guardar para um inseguro amanhã. Quem garantiria que o neandertal iria sobreviver para viver o amanhã? E quem garantiria que um lobo não acharia a refeição escondida? Quanto mais incerto o futuro, mais valor tem o presente.
O economista John Keynes diria que, a longo prazo, todos nós estaremos mortos.
VPL
A ferramenta matemática que comprova o poder do tempo presente é o tal do Valor Presente Líquido. Uma maçã hoje vale muito mais do que uma maçã amanhã. Tanto maior a taxa de desconto, mais vale o presente ao futuro.
Quanto maior a inflação, menos consigo saber o valor do dinheiro no futuro, portanto mais ênfase no agora. Quanto mais violenta a sociedade, menos ênfase no futuro – para que investir em estudos e num trabalho honesto, se tudo pode acabar de uma hora para outra? Melhor desfrutar do presente.
Mas o VPL não mede tudo. E o prazo de tempo além do VPL? E todo o resto que não está na conta?
Juros Compostos
Foi justamente a capacidade do ser humano de conseguir planejar o futuro que fez dele o que é hoje. A capacidade de poupar em tempos bons para sobreviver a tempos adversos, a capacidade de se sacrificar no presente para obter quantidades muito maiores no futuro. Estudar hoje para agregar mais valor amanhã. Um trabalho honesto e compassado ao invés de um atalho perigoso e incerto. Investir em tecnologia, sofrer um bocado por um tempo, para obter resultados muito melhores. Plantar hoje para colher amanhã.
Em contraponto ao pobre do VPL, a ferramenta que demonstra o poder do longo prazo são os Juros Compostos. Novamente, o Tempo, aquele elemento tão difícil de domar.
Os juros compostos dão retorno exponencial. Um pouquinho melhor hoje, um pouquinho melhor amanhã, passos pouco perceptíveis. Depois de um tempo, teremos um resultado centenas de vezes melhor do que aquele que ficou parado.
Admiro muito a filosofia oriental, japonesa e chinesa, de dar muita importância ao longo prazo. Eles preferem uma solução que dê resultados melhores no futuro, mesmo sendo mais cara hoje. Eles não se importam com perdas pequenas, contanto que isto esteja alinhado com o objetivo final de longo prazo da empreitada.
Segue um pequeno texto de Akio Morita, fundador da Sony, sobre o tema Longo Prazo.
Espera-se que os gerentes mais jovens fiquem vinte ou trinta anos na empresa. Por isso, os executivos estão sempre pensando no futuro. Se a alta direção despreza os níveis baixos e médios da gerência, pressionando-os para que mostrem lucros neste ano ou despedindo-os quando não alcançam os níveis esperados, este tipo de procedimento pode acabar com o futuro da empresa. Se o gerente de nível médio diz que o seu plano não vai dar resultados agora, mas será bom para a companhia daqui a 10 anos, ninguém vai ouvi-lo, e ele corre até mesmo o risco de ser demitido.
Este estímulo de longo prazo apresentado por nosso pessoal, de cima ou de baixo, oferece grande vantagem ao nosso sistema de trabalho. Podemos criar uma filosofia de trabalho. Os ideais da companhia não mudam.Para uma comparação, um executivo americano assumiu a direção de uma companhia americana, fechou várias fábricas, demitiu milhares de empregados e foi elogiado por colegas como um grande executivo. No Japão, este comportamento seria considerado lastimável. Acreditamos que fechar fábricas, despedir empregados e mudar bruscamente os rumos da empresa pode até ser bom para o balanço trimestral, mas certamente vai destruir o espírito da companhia a longo prazo.
Os juros compostos são tão poderosos que sobrepujam a condição inicial, dado tempo suficiente. Um burro esforçado pode se dar muito melhor do que alguém inteligente, mas preguiçoso.
Keynes está muito errado. O longo prazo inevitavelmente chega. No longo prazo, nossos filhos colherão os frutos que estamos plantando hoje.
Resumo em uma fórmula:
1,01^100 >>> 0,99 ^100
Resumo em uma frase:
Os juros compostos são a força mais poderosa do universo – Albert Einstein.