Prelúdio. Por que escrevo tão bem?
Mas que sujeito arrogante! Afirmar que escreve tão bem!
Na verdade, a frase acima é da autoria do grande filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Ele tem um estilo poético, aliado a ideias contundentes. É um artista que usa uma martelo, e cuja habilidade é a de destruir as mais profundas convicções que temos: a moral, a bondade, a filosofia, o cristianismo.
Nietzsche escreveu capítulos como “Por que sou tão inteligente” e “Por que escrevo bons livros”, num livro autobiográfico chamado “Ecce Homo”. Ecce Homo vem do latim, algo como “Eis o homem”. Em bom português, imagino que ele quis dizer “Esse é o cara”. Nota-se que Nietzsche é alguém para ser extremamente amado ou extremamente odiado, não tem meio-termo.
O título real deste ensaio seria “Por que escrevo este blog”.
Ato 1. Por que escrevo este blog
Por que escrevo este blog, e por que escrevo tão bem (adotando a provocação de Nietzsche)? Há algumas respostas. Uma delas: tenho algo a dizer.
Há tantas ideias porcarias espalhadas por este mundo, que as pessoas às vezes podem se deixar levar por elas, somente pelo fato de não terem a chance de ouvir ideias antagônicas.
Ideias são como faróis luminosos. Há faróis grandes e brilhantes, que alcançam um grande número de pessoas. E há faróis retransmissores, menores, menos brilhantes, que têm menos alcance. Até mesmo o maior e mais brilhante farol precisa da ajuda desses retransmissores, porque a luz se dissipa no tempo e no espaço. Cada um de nós é um desses faróis, temos o nosso valor ao retransmitir ideias que valem a pena ser compartilhadas.
Ato 2. Ensinar e aprender
Outro motivo para escrever é o de aprender. A melhor forma de aprender não é estudando, mas sim fazendo, praticando, ensinando. E a minha forma de ensinar é através da palavra escrita.
Para tentar criar bons argumentos, tenho um checklist. Alguns dos critérios:
- Sempre agregar valor em textos curtos
- Inserir alguma história que aconteceu comigo ou alguma ideia minha, para criar um ponto de vista inédito
- Criar um “Flow”, um fluxo, um encadeamento natural de ideias do início ao fim.
Citando o grande professor Otávio Manhães (do ITA):
“Se eu não conseguir ensinar física quântica para uma empregada doméstica, não sou um bom professor”.
Ato 3. Ilhas de conhecimento
Minhas anotações em cadernos sempre foram tão bagunçadas que não serviam para nada. Ao contrário, escrever aqui é uma forma de organizar e registrar ideias. Indexar conhecimento.
Cada texto é como se fosse uma ilha, uma ilha de conhecimento. E cada comentário das pessoas que leem esses textos são novas ilhas de conhecimento. Conectar ilhas diferentes leva a novos insights. Com isso, estarei preparado quando preciso. Por exemplo, quando surgiu um convite da revista Opiniões (aqui neste link) para falar sobre planejamento florestal, eu já tinha um texto-base para guiar o texto final.
Eu gosto da imagem de ilhas de conhecimento, se conectando através de pontes de imaginação, formando novas ilhas de aplicações e continentes de inovações. Já o pesquisador Steven Johnson criou o termo “possível adjacente”. A ideia é que inovação não ocorre em saltos, mas expandindo os limites do conhecimento existente.
Epílogo.
Para fechar, uma citação adaptada de Carl Sagan, dedicada às pessoas com quem discuti conceitos, ideias, teorias, percepções, aplicações.
Diante da imensidão do tempo e da vastidão do espaço, foi um prazer encontrar cada um dos meus amigos nesta época, neste planeta.