Que tal ouvir música assim: sons graves nas pernas, guitarra na barriga?
Essa é a proposta de Mick Ebeling, fundador da Not Impossible.
A ideia é ajudar pessoas surdas a curtir um show de rock, com wearables projetados para transformar sons em vibrações.
𝐎 𝐄𝐲𝐞𝐖𝐫𝐢𝐭𝐞𝐫
Ao ouvir a história de um artista com o corpo totalmente paralisado, ele juntou uma equipe para projetar um dispositivo inspirado no que Stephen Hawking usava.
Eles adaptaram um óculos e câmera para detectar o movimento dos olhos. Dessa forma, pela primeira vez, o artista conseguiu voltar a desenhar, usando apenas os olhos!
𝐎 𝐏𝐫𝐨𝐣𝐞𝐭𝐨 𝐃𝐚𝐧𝐢𝐞𝐥
Daniel perdeu ambos os braços aos 14 anos, vítima de um bomba, no Sudão.
Ebeling juntou uma equipe de técnicos e médicos para projetar uma prótese biônica, numa impressora 3D, a uma fração do custo de uma prótese normal.
Patrocinadores cederam equipamentos e treinamento à comunidade local, para que o trabalho continuasse.
A mensagem é que ele fez isso para ajudar uma única pessoa: Daniel, o artista.
Não é preciso mudar o mundo. Podemos começar ajudando uma única pessoa.
O impossível não é impossível.
Mick Ebeling fez esta apresentação extremamente inspiradora na Expert XP 2020:
Uma recomendação de leitura é o livro “AI Superpowers”, de Kai Fu Lee. É um livro que fala de tecnologia e negócios, como muitos outros, porém, este é diferente. Primeiro, pela perspectiva. Kai é taiwanês e trabalhou muitos anos com inteligência artificial, principalmente na China. E, segundo, porque ele enfatiza bastante o lado humano, além do tradicional AI-resolve-tudo.
A carreira de Kai-Fu começa como pesquisador, passa por responsável pela operação chinesa da Microsoft, até os dias atuais, em que é gestor de um fundo de tecnologia chinês.
Espírito empreendedor
Uma dificuldade das startups era fomentar o espírito empreendedor. Na China, desde tempos antigos o melhor trabalho era ser servidor público. Passar em algum concurso e viver para sempre sem grandes preocupações, num país onde a grande maioria veio de um passado muito sofrido.
Como convencer jovens chineses brilhantes a preferirem uma startup a um concurso público? Kai conta que visitou vários pais e mães, levou para jantares e demonstrações da empresa, a fim de explicar a lógica dos novos tempos. Era um trabalho ladeira acima.
A ascensão de Jack Ma e o AliBaba foram dois fatores que ajudaram, no quesito mudar a cabeça milenar das pessoas. Jack Ma é uma pessoa de origem humilde, sem formação, e com muito carisma. Mirando-se em Jack, muitos jovens viram que existia um caminho alternativo ao concurso público.
Ambiente regulatório
A China pode ser um ambiente ideal para o desenvolvimento de algumas novas tecnologias, como o carro autônomo. Este é um caso específico em que o ambiente regulatório conta muito. Nos EUA, por exemplo, podem surgir regulações impedindo carros autônomos. Ou, imagine a repercussão, no caso de acidente! Já na China, pela força maciça do Estado, os carros autônomos provavelmente teriam menos interferência.
Abordagem das empresas
Duas formas de uma startup abordar a AI. Uma, é tentar abordar o problema genericamente, sem se especializar em alguma área. Algo como um power grid, e tal qual a analogia, a empresa tem que ser grande e pesada para suportar uma abordagem dessas. A segunda é algo como carregar baterias. Seriam empresas para resolver um problema específico (digamos, reconhecimento de imagens no agronegócio), e seriam mais leves, por serem focadas.
IA geral e empregos
A inteligência artificial geral, aquela dos filmes de ficção onde os robôs tomam conta do mundo, está longe de se tornar realidade. Por enquanto, temos algumas aplicações específicas.
E, mesmo quando a AI geral começar a ficar mais próxima da realidade, o problema real não será o mundo ser destruído e a humanidade, escravizada. O problema real será a diminuição dos empregos.
Kai Fu cita outros autores, como o israelense Yuval Harari, que prediz o surgimento de uma nova classe social, a classe dos inúteis. Seriam aqueles que não têm a qualificação mínima para fazer algum trabalho de valor maior do que um algoritmo fará.
AI e o poder do amor
Kai Fu, neste ponto, cita que conheceu o poder do amor. Ele conta como dedicou o mínimo de tempo possível para a família, ao longo da carreira, a fim de otimizar o tempo para a busca de seu aperfeiçoamento profissional. Um exemplo: ele quase perdeu o nascimento da primeira filha, por conta de uma reunião importante!
Há alguns anos, Kai Fu foi diagnosticado com câncer. Isto mostrou a importância do ser humano, que o dinheiro e o sucesso não conseguem comprar.
Um exemplo, de algo que apenas o ser humano pode prover. Uma das empresas de Kai Fu lançou um aplicativo para idosos. Este tinha ícones grandes, interface simples, e permitia uma série de serviços a um clique: comprar insumos, encomendas de restaurantes, etc… Também tinha um service-desk, para falar com um atendente humano.
Qual foi o serviço mais acessado? O service-desk. Para uma boa parte dos atendimentos, os idosos nem tinham a necessidade de acessar algum serviço. Eles queriam apenas companhia, alguém com quem conversar. Esta é uma necessidade bastante grande entre os idosos, ainda mais nos tempos modernos.
Talvez a resposta para o desemprego estrutural crescente seja o amor. Recompensar interações sociais. Distribuir riqueza ao mesmo tempo em que se distribui atenção às pessoas necessitadas. Cuidar de quem precisa. Ter filhos.
Kai Fu Lee tem diversas publicações em chinês e é uma espécie de celebridade por ali. O livro AI Superpowers é a única obra em inglês, até o momento, e traz um background cultural oriental e reflexões bastante pertinente para os anos e décadas que viveremos.
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