Contos budistas sobre família, sinceridade e ambição

Alguns fantásticos contos budistas, ilustrados com a ajuda das IAs Midjourney e Bing Create.


A sogra envenenada

Numa casa onde sogra e nora moravam juntas, mas não se bicavam de maneira alguma, a nora um dia foi a um farmacêutico, com um pedido incomum.

Ela disse ao boticário que não aguentava mais o contato com a sogra, e pediu um veneno que a levasse sem dor e sem causar suspeitas…

O boticário pensou um pouco, passou 30 cápsulas e uma receita:

  • Coloque uma cápsula dessas por dia, em sua alimentação, e ela irá desta para melhor no dia 31. Entretanto, seria muito esquisito ela partir assim, e a suspeita cairá naturalmente em você, e depois, em mim. Portanto, peço que você a trate muito bem. Faça os seus desejos, lhe dê atenção, pondere o que ela diz. Só vai dar certo se você fizer exatamente o que estou instruindo.

A nora concordou com o raciocínio. Retornou para casa imediatamente, e começou a executar o plano. Tratou a sogra com muito respeito, ouviu o que ela tinha a dizer, fez o que fazia sentido acatar. E assim foi, dia após dia.

Lá pelo vigésimo dia, a sogra já não reclamava mais da nora, muito pelo contrário, a elogiava e estimava, pela sua dedicação, compreensão e atitude. A nora ainda assim prosseguia com o plano…

No vigésimo nono dia, eis que a nora retorna ao boticário:

  • Doutor, por favor. Peço uma cura para o veneno! Eu estava errada. Minha sogra é uma pessoa maravilhosa, eu é que não estava a entendendo. Ela quer o bem meu, da família, e por isso, era tão exigente. Além disso, ela viveu em outros tempos, e não entendia os valores novos da sociedade. Nesses dias todos, tanto eu a compreendi melhor, quanto ela o fez também. Por favor, uma cura!

Ao que o boticário respondeu, calmamente:

  • Não se preocupe. Aquela cápsula não era de veneno. Era apenas açúcar. O verdadeiro veneno estava em vossos corações, e agora ele foi dissipado!

A Estrela Verde

Estava uma bela noite estrelada no Japão.

O mestre budista chamou seus mais proeminentes discípulos e fez uma observação inocente:

  • Olhem lá naquela direção. Que maravilhosa aquela estrela verde! Nunca tinha visto algo tão brilhante e majestoso!

O problema era que não tinha estrela verde alguma. Os discípulos olhavam com atenção, mas nada. Enfim, um deles concordou: “Realmente, mestre, que estrela majestosa!”.

Após o primeiro comentário, estavam os demais a também elogiar a bela estrela verde inexistente.

Somente um deles, o discípulo de maior destaque, teve a coragem de comentar: “Mestre, não vejo estrela verde alguma”.

Ninguém pronunciou mais nada, mas pelo sorriso no semblante do mestre, estava claro que essa era a resposta que ele queria ouvir.

Mal sabiam os discípulos que este era apenas um teste, para diferenciar aqueles que apenas querem concordar e seguir ordens, daqueles que buscam a verdade e não têm medo de expor opiniões contrárias.


Corra atrás do tesouro até o fim

Disposto a estimular a expansão territorial de seu feudo, um senhor lançou um desafio a aventureiros interessados.

O aventureiro teria direito à posse de toda a nova terra que conseguisse demarcar. Porém, era necessário partir exatamente no nascer do sol, e retornar ao local de partida até o pôr do sol. Se ele não conseguisse, nada teria.

Um jovem ambicioso, disposto a sair da pobreza, aceitou o desafio. Ao nascer do sol, começou a correr com todas as forças, a fim de obter a maior área possível. De hora em hora, ele fixava as estacas de marcação, e continuava a correr, sem pausa para refeições, no máximo tomava água de quando em quando.

De início, tudo bem. O tempo foi passando, meio do dia, início da tarde… sua cobiça era tanta que ele continuava a andar e marcar o terreno.

Quando ele menos esperava, ele deu conta que a tarde estava se esvaindo, e em poucas horas, o sol se poria. E, com isso, todo o seu esforço seria em vão, se ele não conseguisse retornar a tempo.

O problema é que ele estava muito longe do local da partida! Tinha corrido o dia inteiro, e chegaria horas atrasado fosse num ritmo normal. Daí, ele tomou a decisão de correr com todas as forças, sem parar nem um segundo.

Após mais algumas horas, o aventureiro ainda estava a quilômetros do local de partida, e vendo o sol se aproximar do horizonte…

Ele resolveu tirar forças de onde não tinha para completar esses quilômetros restantes a tempo: correu como nunca havia corrido antes, sem nem conseguir mais pensar.

Por fim, no exato momento em que o sol se pôs, o aventureiro conseguiu chegar ao local de partida, se atirando ao chão. Ele estava morto! O esforço fora demais para o pobre coitado, cego pela ambição.

O senhor feudal comentou: “Este rapaz correu como ninguém para obter riquezas. Entretanto, para ele, seria suficiente a área de uma cova”.

Como diria o filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “A ganância é como a água do mar: quanto mais bebemos, mais sede temos”.


Bônus

Prompt: Wise zen master teaching a group of smart children. background with a village, open field. Highly detailed. japanese children book illustration style


Veja também:

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s