Estive a assistir a nova série “O gambito da rainha”, e achei muito engraçada a cena em que o zelador da escola aplica o “Mate Pastor” (ou Scholar’s Mate) na protagonista.

Isso porque todo amador já:
- Sofreu o mate pastor ou variantes
- Tentou aplicar o mesmo e conseguiu, em outros iniciantes
- Tentou aplicar e se deu muito mal, em qualquer um que tenha um nível um pouquinho melhor
O gambito é uma manobra em que o jogador sacrifica uma peça para obter alguma vantagem posicional. Uma perda de curto prazo para uma vantagem a médio prazo.
Quem me ensinou a jogar xadrez foi o Sr. Antônio. Ele era vizinho de um tio meu, e era aficionado por xadrez. Levava o tabuleiro em todas festinhas e eventos familiares, e ficava jogando com outros velhos. Eu tinha uns 10 anos, e ficava observando.
O Sr. Antônio, percebendo o meu interesse naquele tabuleiro preto e branco cheio de peças, ensinou algumas jogadas e me presenteou com o “Manual de Xadrez”, de Idel Becker.
Foi lá que vi centenas de anos de jogos de xadrez, e grandes mestres como Alekhine, Bobby Fischer e outros.
No começo dos anos 90, a maior rivalidade de todos os tempos, Kasparov – Karpov, estava em seu auge. Era algo como um grande duelo de boxe, Mike Tyson x Hollyfield, Muhammad Ali x George Foreman, Senna x Proust, Brasil x Argentina, ou Barcelona x Real Madrid.
Garry Kasparov era o gênio imbatível, até hoje considerado o maior jogador de todos os tempos.
Anatoly Karpov, outro gênio, também um dos melhores. Eu gosto muito do estilo do Karpov. Ele era conhecido como a “Jiboia constritora”, porque jogava na retranca, posicionando sempre a longo prazo, não dando espaço, apertando o oponente aos poucos até a morte…
Kasparov venceu os duelos, e, alguns anos depois, perdeu para o Deep Blue da IBM – e este é um marco na história da Inteligência Artificial.
Depois disso, o domínio dos computadores ficou tão absurdamente discrepante que hoje é impossível um ser humano vencer. Hoje em dia, ocorrem torneios em que a capacidade do computador é diminuída para dar alguma chance do melhor ser humano do mundo vencer…
Eu “troquei de lado” nessa época, deixando o xadrez para estudar algoritmos – afinal, nunca tinha jogado muito bem mesmo.
Depois que o meu nível melhorou um pouquinho, percebi que o Sr. Antônio também não jogava bem. Ele só usava o xadrez para fazer amigos e contar histórias – e essa era a melhor característica dele. Tenho o livro dele até hoje e acho que vou copiar essa estratégia de fazer amigos no futuro.
O “Gambito da Rainha” é uma série divertida, para quem gosta do tema.

Veja também:
Um dos consultores da série é Bruce Pandolfini, cujas ideias de xadrez aplicado à vida estão resumidas aqui:
https://ideiasesquecidas.com/2016/01/21/estrategias-do-xadrez-para-a-vida
Computadores x Humanos: