Moneyball e o 7 a 1 no futebol

Este texto tem duas partes: comentar um pouco do excelente Moneyball, aplicado no baseball, e como isto vem refletindo no futebol.

“Moneyball” é o nome de um livro (que virou filme, com o Brad Pitt) que narra a utilização de Analytics pelo time de baseball Oakland A.

O time, na temporada de 2002 da MLB (Major League Baseball), tinha um dos menores orçamentos da liga, e tinha perdido três jogadores importantes. O gerente geral do time, Billy Beane, resolveu apostar em algo diferente: bases de dados e estatística!

A sabedoria tradicional da época (e ainda hoje) contava com olheiros, que analisavam as métricas normais: número de batidas e velocidade. Eles também levaram em conta a altura, força física, e até fatores bastante subjetivos, como a namorada do jogador – segundo um dos olheiros, uma namorada feia indicaria pouca confiança!

Mais do que olhar para a performance passada, os olheiros tentavam adivinhar o potencial futuro: o que o jogador poderia se tornar.

Michael Lewis, o autor do livro, é um grande contador de histórias. Ele coloca flashbacks do passado do próprio Billy Beane quando jovem. Segundo os olheiros, Billy era o jogador ideal: alto, atlético e com todas as características para explodir no esporte. Beane estava em dúvida entre Stanford e uma carreira no baseball, escolhendo o último pelo dinheiro envolvido. Porém, Beane não foi bem sucedido quando jogador, ou pelo menos, não chegou ao potencial prometido pelos olheiros – daí surge a razão dele duvidar da sabedoria convencional.

Beane contratou um economista com ideias radicais sobre o baseball, Paul DePodesta (no filme, Peter Brand). Este se baseou nas ideias de Bill James, um esquisito (como todo gênio), que passou décadas coletando estatísticas de baseball e desenvolvendo teorias para correlacionar vitórias e derrotas com a performance dos jogadores.

Nota: Bill James fez, ele mesmo, uma série de coleta de dados detalhada de jogos de baseball. O maior gargalo do data analytics, inclusive em grande empresas, é o data, e não o analytics).

Uma das novas métricas propostas era quem conseguia alcançar as bases. Utilizando isso, a ideia do gerente Billy Beane foi contratar jogadores subvalorizados pelo viés dos olheiros.

Assim, vieram pessoas como o arremessador que lançava a bola de forma esquisita, mas efetiva. Um atleta gordinho, com boatos de que frequentava clube de striptease. Outro que tivera problemas e não conseguia lançar a bola.

Ocorreram reações, é claro. Olheiros com mais de 30 anos de vivência no esporte desacreditavam do método esotérico. Uma série de medidas importante nunca seriam quantificadas num modelo. O próprio técnico continuava montando a equipe conforme a sabedoria convencional. Derrotas se acumulavam.

Foram necessárias mais algumas mexidas e ajustes, que, finalmente, deram frutos. O Oakland alcançou uma série incrível de 20 vitórias seguidas e conseguiu chegar à fase eliminatória, na qual foi eliminado. Porém, foi uma performance impressionante, dado o orçamento minúsculo do time.

Billy Beane foi convidado a ir para um time maior, o Boston Red Sox, porém, recusou. O Red Sox, em anos posteriores, também utilizou a filosofia do Sabermetrics, e foi campeão.

É lógico que Analytics é uma pequena parte da equação. Há todo um trabalho imenso, na parte física, psicológica, técnica, para um time ser bem sucedido. Do momento Eureka de Billy Beane (que foi em 2002) até hoje (2020), há muita gente que ainda não acredita que o Sabermetrics faz alguma diferença.


E no futebol?

Baseball não faz parte do cotidiano do brasileiro. O futebol, sim. Ambos os esportes são cheio de tradição e paixões, análises subjetivas repletas de vieses, muito dinheiro e interesses envolvidos. Como a análise de dados evoluiu no futebol?

Cinco cases abaixo:

1) Uma abordagem exatamente similar à do Moneyball não parece ter dado certo. Há pelo menos um caso famoso, o do Alexandre Bourgeois, que chegou a ser CEO do São Paulo por alguns meses.

Alexandre chegou a desenvolver alguns modelos similares ao do Moneyball, e tentou vender para os clubes, sem sucesso.

Ele conta como a estrutura organizacional dos clubes é arcaica. Estes devem passar por uma profissionalização profunda antes. Nota-se também presença forte de empresários de jogadores.

2) Um case de sucesso famoso é o da seleção alemã de 2014, aquela mesma, do 7 a 1 em cima do Brasil.


A ferramenta desenvolvida permite checar desde a organização tática e a precisão de chutes até a posse de bola e a distribuição de passes. Também destaca-se a propaganda que o patrocinador do programa, a gigante de software SAP, fez em cima do sucesso do time.

3) Outro bom case é o do Liverpool. Faz alguns anos, este vem investindo pesado em analytics, culminando na conquista da Champions League de 2019. A análise maciça de dados inclui um mapa da posse de bola no campo e gráficos de passes.


4) Flamengo: o big data vem sendo utilizado, para analisar o desempenho dos jogadores nas partidas, e para preparar um plano de ação para recuperação destes.

5) Grêmio e Palmeiras: uma empresa de consultoria especializada em análise de dados para o futebol tem acessorado alguns clubes. O case diz que o jogo Grêmio x LDU, na Libertadores de 2016, teve uma ajudinha da análise. O histórico mostrou que o goleiro adversário tinha uma deficiência que poderia ser aproveitada. Ele não pegava bem pelo lado direito. Os jogadores foram informados disso, e dois dos três gols do Grêmio foram do lado direito do goleiro.

O data analytics no futebol já está sendo utilizado com graus variados de sucesso, porém, ainda engatinha. A grama está alta.

Análise de dados é somente uma parte pequena do todo. Contudo, jogos de alto nível costumam ser parelhos e podem ser decididos em um único lance. Uma ajudinha analítica pode fazer toda a diferença.


Links:

Seleção alemã: https://exame.abril.com.br/tecnologia/solucao-de-big-data-e-um-dos-segredos-da-alemanha-na-copa-2/

Flamengo: https://www.youtube.com/watch?v=flc6KrVjnDY

Liverpool: https://www.liverpool.com/liverpool-fc-news/features/liverpool-transfer-news-jurgen-klopp-17569689

São Paulo: https://universidadedofutebol.com.br/alexandre-bourgeois-ex-ceo-do-sao-paulo-fc/

Grêmio e Palmeiras: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/06/empresa-de-analise-de-dados-conquista-palmeiras-e-gremio-e-lanca-time-de-futebol.html

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