Recebi o maior tapa na cara dos últimos anos. Este foi dado por Hans Rosling, médico sueco, em seu livro Factulness.
Uma tradução literal seria “cheio de fatos”. Utilizar dados e números concretos para tirar conclusões. Óbvio? Sim. Porém, não o fazemos.
Ele começa o livro com alguns testes, do tipo “onde a maioria da população vive, em países de alta, média ou baixa renda”? Minha resposta intuitiva: Baixa renda. Resposta correta: renda Média.
Outro exemplo, qual a porcentagem de crianças de um ano que tomaram alguma vacina no mundo? A resposta é 80%, ao invés do meu chute de 50%.
Eu não sou o único a errar. Os estudantes de medicina dele também erraram. O público do TED talks (onde ele é conhecido pelo gráfico de bolhas dinâmico) também errou. O pessoal do Fórum Econômico também errou. Na verdade, as pessoas têm um viés de considerar o mundo pior do que realmente é.
Chimpanzés acertariam mais do que seres humanos, porque a resposta do chimpanzé é totalmente aleatória, e a nossa é viesada.
Do que estamos reclamando?
Rosling divide o mundo em 4 níveis, de acordo com o gráfico a seguir.

Para quem está no nível 1, ou mesmo no nível 2, um dólar a mais faz uma diferença absurdamente grande, pode ser a diferença entre almoçar ou não.
Todos que estão lendo este texto estão no nível 4, confortáveis atrás da tela de um computador, com água encanada, luz, possibilidade de estudar e trabalhar em alto nível. O mundo todo começou no nível 1, e, ao longo da história, o padrão de vida vem melhorando.
Separei algumas dicas simples para termos uma visão menos viesada do mundo.
– Dados para comparar. Ao invés de olhar apenas para o número absoluto, comparar com outros números que possam fazer sentido na análise.
– Dividir um pelo outro. Saber o número per capita pode fazer muita diferença na análise e na tomada de decisão.
– Importância dos dados. Muitas vezes, os próprios dados não existem ou não são confiáveis. Sem a medida, não é possível analisar. Ex. Rosling conta que a Suécia passou a publicar dados trimestrais sobre emissão de CO2 após sua insistência. Antes disso, eram bienais.
Um exemplo. Ajudar os pobres vai fazer com que estes gerem filhos mais pobres ainda? Não é esse o ponto. O que se vê é exatamente o oposto. Com a melhora das condições das pessoas, as famílias têm cada vez menos filhos, cada um desses com possibilidade muito maior de sobrevivência e tendência a melhorar o padrão de vida a cada geração.
Hans póstumo
De alguma forma, notei que ele escreveu de forma simples e apaixonada. Não escreveu pela fama, ou para impressionar outros acadêmicos (há muitos livros assim), mas com o genuíno interesse de mostrar a sua visão e tentar mudar o mundo para melhor.
No final do livro, fico sabendo o motivo. Hans foi diagnosticado com câncer, com poucos meses de vida. O livro foi uma corrida contra o tempo, a sua prioridade total para deixar o seu legado, a sua mensagem otimista ao mundo.
E qual o seu legado?
Ficha: Hans Rosling, Suécia, 1948 – 2017. Médico e especialista em dados.