Para cada unidade de conhecimento explícito em livros, há 1000 unidades de conhecimento tácito, não escrito em lugar algum.
O conhecimento está nas pessoas – e pouquíssimas pessoas têm o talento, a paciência e dominam os meios para se comunicar de forma explícita, seja por texto, vídeo ou artigo.
As ideias estão no ar.
Um erro comum é achar que as ideias explícitas inspiraram as ações efetivas. Na verdade é o contrário. Normalmente, a ação inspira o registro.
Muitos dos grandes pensadores da história são bons escribas e bons analistas.
Não foi depois que Adam Smith escreveu “A riqueza das nações”, em 1776, que as economias do mundo passaram a enfatizar o livre-mercado, a mão invisível e a divisão do trabalho. Tudo isto já estava acontecendo, e Smith foi o primeiro que analisou e registrou o mesmo.
O mesmo ocorre com o pensador italiano Nicolau Maquiavel, nos anos 1500. Não foi ele que inventou o conceito de que “Os fins justificam os meios”. Ele era um grande estudioso e pesquisador histórico, e se baseou fortemente nos poderosos de sua época (como César Bórgia) e de épocas antigas para escrever os seus tratados políticos.
Os acadêmicos se fecham em seu mundo do conhecimento explícito, deixando para trás um universo de informações tácitas, do mundo real.
A espiral do Conhecimento
Gosto muito do ciclo SECI de gestão do conhecimento, de 2003, dos autores Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi. Este ciclo reflete quase exatamente as ideias acima.
Eles dividem o conhecimento em quadrantes.
- Tácito – Tácito: Uma pessoa ensinando outra, ou uma pessoa aprendendo com a convivência num meio. Aprendemos a falar imersos numa sociedade, e não através da leitura dos livros de gramática.
- Tácito – Explícito: são os Adam Smiths que reportam o conhecimento tácito de forma explícita. Ou os consultores de empresa que analisam um business e geram relatórios e planos de ação. Ou os professores que escrevem os livros didáticos.
- Explícito – Explícito: é o mundo das combinações e informação, gerando outras informações e insights. Manuais, livros, planos. O mundo acadêmico mora aqui.
- Explícito – Tácito: é a internalização do conhecimento, estudar, ler, aprender.
Na verdade não é apenas um ciclo. É um ciclo virtuoso, é uma espiral – a espiral do conhecimento.
Conhecimento tácito sendo externalizado, explicitado, possibilitando a combinação de outras análises, facilitando que outras pessoas internalizem o mesmo, gerando um conhecimento tácito melhor e mais avançado, e assim sucessivamente, e de forma crescente.
A minha contribuição é no tamanho dos quadrantes. O quadrante tácito-tácito é muito maior do que os demais. Representá-lo com a mesma área no quadro subestima o tamanho e a importância do conhecimento tácito.
O mundo explícito-explícito é o domínio do deus Apolo, da ordem, do conhecimento perfeito, da beleza, do rigor exato.
Já o tácito-tácito é o domínio do profeta Dionísio, o do caos, o das combinações esparsas, da embriaguez, do bate-papo informal. É onde nasce uma supernova, parafraseando o grande Friedrich Nietzsche. É no tácito-tácito onde realmente ocorrem as revoluções.
Para fazer revoluções, mergulhe no mundo tácito.
Anexo: A biblioteca de Lucien
A biblioteca de Lucien contém todos os livros não-escritos do mundo. Todas as ideias que nunca foram para o papel, todos os sonhos que desapareceram da memória, todos os projetos engavetados.
Um único detalhe: esta biblioteca existe apenas no reino dos sonhos, do personagem Sandman, de Neil Gaiman.
Acho que para fazer jus ao que de fato ocorre a figura geométrica não é um retângulo mas um trapézio invertido. Grande sacada a sua. Este processo é o de registro do conhecimento. Um outro processo interessante é a dicotomia: é o professor que ensina ou o aluno que aprende? O ensino socrático como até hoje é praticado é a melhor forma de transmitir conhecimento? A melhor forma de ocorrer o aprendizado?
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Conceitos muito interessantes.Cabe a reflexão sobre as formas como conhecemos as coisas.
P.S:Fico a pensar o quão magnífico seria ter acesso ao acervo da biblioteca de Lucien!Qual maravilhoso seria poder ”ler” todas as grandes ideias do mundo que foram esquecidas!
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