O nome deste blog, Forgotten Lore, vem do enigmático “O Corvo” (The Raven), do autor americano Edgar Allan Poe:
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore…
Este é um dos poemas mais conhecidos de Allan Poe. Foi escrito em 1845, e é citado e recitado diversas vezes ao longo da história.
Como o inglês dele é bem difícil, tive que ler, procurar no dicionário, reler diversas vezes para entender o poema…
No caso específico de Forgotten Lore.
Forgotten significa “esquecido”.
Lore significa “conhecimento” – não conhecimento por conhecimento, mas um conhecimento valioso.
O significado de Lore, segundo o dictionary.com:
the body of knowledge, esp. of a traditional, anecdotal, or popular nature, on a particular subject.
(http://www.dictionary.com/browse/lore)
Portanto, Forgotten Lore pode ser interpretado como: Um conhecimento valioso esquecido em livros antigos.
Sonhando sonhos
O poema The Raven deve ser lido em voz alta, em inglês. Mesmo sem entender uma palavra do que está escrito, dá para perceber que este segue uma métrica bem definida e tem uma sonoridade agradável aos ouvidos.
Além disso, tem várias outras passagens memoráveis e frases que viram citações conhecidas. Gosto muito deste trecho:
Dreaming dreams no mortal ever dared to dream before,
algo como “Sonhando sonhos que mortal nenhum jamais ousou sonhar”, em tradução livre.
Esta minha tradução é fácil de entender, mas destruiu a estrutura e a poética do texto.
Que tal a versão de alguém com um pouquinho mais de calibre?
Na tradução de Fernando Pessoa:
“tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais”
Machado de Assis também tem a sua tradução do Corvo:
“E sonho o que nenhum mortal há já sonhado”
E tem mais umas trinta traduções para o português, segundo este site que as compilou: http://www.elsonfroes.com.br/mpoe.htm
Os Simpsons também têm uma versão do corvo:
Vira e mexe, aparece alguma obra inspirada no Corvo, seja no cinema ou em outros meios artísticos.
Por fim, a minha preferida.
A canção “Velha roupa colorida”, de autoria de Belchior – falecido há pouco, em abril de 2017 – e imortalizada na voz de Elis Regina, faz várias citações ao “blackbird”.
Esta canção é muito bonita, mas a letra é indecifrável na primeira vez que se ouve. Mesmo ouvindo várias vezes, é difícil entender exatamente. Hoje em dia, é fácil pesquisar a letra na internet.
Como Poe, poeta louco americano
Eu pergunto ao passarinho: Blackbird, o que se faz?
Raven never raven never ravenBlackbird me responde
Tudo já ficou pra trás
Raven never raven never ravenAssum-preto me responde
O passado nunca mais
Além da música ter um ritmo legal, ela é cheia de citações. Em parágrafo anterior, ela cita “She’s leaving home”, dos Beatles – em particular Paul McCartney. Também cita “Like a rolling stone”, de Bob Dylan.
O “poeta louco americano” só pode ser Allan Poe. Mas, quem sabe, também se refira a Paul McCartney – note que a sonoridade de Poe e Paul é a mesma. Enquanto o corvo é de Poe, o Blackbird é uma música de Paul – dos Beatles.
O “raven never” é uma clara mênção ao “nevermore” do poema.
Assum Preto é um pássaro preto do agreste nordestino. Mas também é uma música belíssima e triste do rei do baião, Luiz Gonzaga. Conta o tocante destino do assum preto, condenado a cantar cego, e traça um paralelo a ele mesmo, Luiz Gonzaga, quando perdeu a visão de um de seus olhos.
E tudo isso começou quando eu estava, um dia, folheando tomos de conhecimento esquecido…
e disse, o corvo, nunca mais!
Links
Original de Allan Poe
https://www.poetryfoundation.org/poems/48860/the-raven
Velha roupa colorida
https://www.letras.mus.br/elis-regina/91023/
Tradução de Fernando Pessoa
http://www.revistaprosaversoearte.com/o-corvo-edgar-allan-poe-traducao-fernando-pessoa/
Tradução de Machado de Assis
https://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Machado_de_Assis)