Ouvi uma pessoa dizer numa palestra que “a ciência provou que o Big Bang ocorreu há exatamente 3,8 bilhões de anos atrás”. Depois, esta mesma pessoa disse que “a ciência provou que a evolução Darwiniana está correta”.
Fiquei revoltado com ambas as frases. Não porque eu não acredite na evolução ou no Big Bang. E nem porque a frase tem palavras tão desconexas quanto “exato” e “bilhões de anos”. Mas sim porque ambas as frases são diametralmente opostas ao próprio método científico.
A ciência não dá certezas absolutas. Quem coloca dogmas como verdades absolutas intransponíveis são as religiões e as ideologias. O método científico é o método da Ignorância – ter a humildade de reconhecer que não sabemos de tudo, e que temos que aprender com fatos novos que contradizem o nosso corpo de conhecimento. Este texto tentará mostrar isto.
1. O mundo pré método científico
No mundo pré método científico, os humanos explicavam o mundo através de deuses. O trovão era causado por um deus quando ficava enfurecido. Os mares tinham um deus, os céus, outro deus, e assim sucessivamente.
Os deuses explicavam tudo, e praticamente todas as civilizações antigas tinham os seus mitos de criação da humanidade.
Nada contra religiões politeístas, mas religião e ciência são coisas distintas.
2. Revolução da Ignorância
Segundo as ideias do filósofo Karl Popper, em sua Lógica das Descobertas Científicas, a ciência não prova nada. A ciência apenas apresenta teorias, que são válidas enquanto não surge outra ideia melhor. Em outras palavras, a ciência é falsificável, porque podem surgir evidências de que ela é falsa.
A ciência não apresenta provas definitivas. E é aí a grande força da ciência, que reconhece que é incompleta e que são justamente as informações contraditórias que a ajudam a crescer.
A mecânica de Isaac Newton funcionou muito bem por centenas de anos. Mas alguns experimentos de medição da velocidade da luz, que contradiziam a Física da época, permitiram que a famosa Teoria da Relatividade surgisse. A Física Newtoniana não era mais a verdade absoluta. Havia agora uma teoria melhor, que vai durar até que novas observações e contradições a derrubem.
Apenas as religiões e ideologias apresentam afirmações intransponíveis, que explicam todos os fenômenos do mundo em dogmas auto contidos.
3. Cisnes Negros
Uma das implicações da ciência ser falsificável é o Problema da Indução: não importa o número de observações condizentes, mas uma única observação contraditória é suficiente para contestar a teoria.
A ideia de Cisne Negro foi divulgada por Nassim Taleb. Imagine a afirmação: “Todos os Cisnes são brancos”. Não importa quantos Cisnes brancos eu veja, isto não vai provar que a Teoria está correta. Mas uma única observação de um Cisne Negro vai ser suficiente para contradizer a teoria, que deve ser substituída por outra.
Observe a diferença. Uma ideologia como o socialismo concentra-se em ideias fixas. Não importa quantas vezes tenha dado errado na prática, os defensores da ideologia vão sempre defender que foi a execução não seguiu a teoria, ao invés de admitir que a teoria é que deve ser modificada.
4. Triunfo da humildade
Portanto, a ciência é o triunfo da humildade de não achar que a gente sabe de tudo. Por exemplo, por mais elegante que seja a Teoria da Evolução, ela provavelmente não vai explicar tudo, forçando o surgimento de melhorias nas ideias envolvidas. O mesmo se dá em relação ao Big Bang e a todas as outras teorias. Esta própria ideia da teoria das Descobertas Científicas de Popper pode estar errada, e vir a ser substituída por outra que diga algo diferente.
Newton: o que sei é uma gota, o que não sei é um Oceano.
Shakespeare, falando por meio de Hamlet : Há mais no Céu e na Terra do que sonha a nossa vã filosofia.
Bibliografia interessante:
The Black Swan – Nassim Nicholas Taleb
Sapiens – Uma breve história da humanidade
Karl Popper – a Lógica das Descobertas Científicas