Como aproveitar a vida ao máximo?

Resposta seca: Eu não sei como você pode aproveitar a sua vida ao máximo, não me pergunte.

No máximo, eu tenho uma ideia de como aproveitar a minha vida, e isso não é transferível de pessoa para pessoa…

Resposta longa.

Lembro de uma ocasião, na minha adolescência (período em que estamos descobrindo tudo e incertos de tudo), que um colega de escola, desses que se sentam no fundo da sala e fazem bagunça, comentou: “Você não sabe aproveitar a vida, fica só estudando invés de ir em baladas, seu nerdão!” – algo do tipo ou pior.

Ora, se a métrica de sucesso do sujeito é passar a noite em baladas, beber todas e dirigir a 200 por hora, ótimo, sorte dele.

Eu gosto mesmo é de dormir à noite, ler e estudar de dia, assistir a algum filme de vez em quando, ficar em um lugar tranquilo nos fins de semana. Qual o problema?

Da mesma forma que não faz o menor sentido ele transferir a mim o que devo fazer para aproveitar a vida, não faz sentido eu transferir a ele o que ele deve fazer. São objetivos pessoais, vai mudar de pessoa para pessoa. É como um macaco falar para um peixe que ele não saber desfrutar a vida porque não sobe em árvores e não come bananas. Pois que fique com todas as bananas do mundo! Ao vencedor, as bananas!

Via negativa

Os melhores conselhos não são do que deve ser feito, mas do que NÃO deve ser feito. É o conceito de Via Negativa, que aprendi nos livros de Nassim Taleb.

Você adiciona subtraindo, eliminando as coisas ruins.

Estresse demais não é bom, assim como drogas ilícitas, abuso de drogas lícitas (como bebidas alcoólicas, tabaco), sedentarismo, promiscuidade.

“Mens sana in corpore sano”, latim para “Mente sã num corpo são”.

Aceite conselhos do tipo via negativa, ou pelo menos reflita sobre.

Métricas e Metas

Quando uma métrica tornar-se uma meta, ela deixa de ser uma boa meta, diz a sábia Lei de Goodhart.

Uma vez vi, num desses manuais de produtividade, que deveria registrar os livros que lia, e ter uma meta de leitura.

Pois bem, assim o fiz por quase um ano. E tinha lá uns 50 livros lidos na lista.

Só que não gostei do resultado efetivo, real. E o resultado real é que vale, não o cumprimento de uma meta, um diploma.

Primeiro, que forçava a leitura até o fim, mesmo aqueles livros que eu não gostava.

Segundo, e principalmente, porque lia tudo no modo fast, leitura dinâmica, algo equivalente a ver vídeo na velocidade 2x. Para cumprir a meta e constar na lista, não para realmente aproveitar o conteúdo.

Prefiro ler de forma efetiva do que apenas para cumprir uma meta fictícia. Há livros que devem ser lidos e relidos, outros que devem ser apenas folheados, depende até do seu próprio momento de vida.

Todas as vezes que você faz algo por um objetivo, é um ato télico (de teleo, objetivo em grego). E quando você faz sem ter um objetivo, é atélico.

Para alcançar algo, um objetivo, suas atividades devem ser télicas. Porém, sempre que você faz algo por obrigação, deixa de ser divertido.

E, paradoxalmente, para você desfrutar do que faz, deve ser atélico.

Se alguém cozinha por hobby, é porque gosta. Se ela abrir um restaurante, vai cozinhar por obrigação, vai cobrar por isso – e ser cobrado. Deixa de ser lazer, passa a ser trabalho.

Eu gosto de escrever, e mantenho este blog por isso. Se eu cobrasse pelo conteúdo, teria que ter a obrigação de maximizar receitas, trabalhar com foco, cuidar de reclamações de clientes; e não escrever o que dá na telha, de forma aleatória, como faço. Viraria trabalho, e seria chato.

Conclusões
Como aproveitar a vida ao máximo?

A resposta só a ti pertence. Não cometa o erro de copiar outras pessoas ou o inverso, de impor seu ponto de vista aos outros.

Via negativa: restrições do que não fazer são mais valiosas do que imposições do que fazer.

Equilibre o tempo télico e o atélico. No télico você ganha o pão para viver, no atélico é onde você vive de verdade.

Por fim, do Peregrino, de John Bunyan” “Minha espada eu deixo para quem for capaz de empunhá-la”.

Trilha Sonora: Aquarela, de Toquinho e Vinícius

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