Fato curioso ocorreu comigo. Gosto bastante de livros físicos e livrarias físicas, entretanto, ambos vem morrendo em ritmo acelerado, com a digitalização do mundo.
Estava na Av. Paulista, em SP, e fui visitar uma livraria especializada que fica numa das galerias da R. Augusta. Entrei no Google antes para ver se ela existia ainda, e, aparentemente, sim, existia.
Porém, ao chegar ao local, a porta estava fechada. Uma placa sinalizava “Aberto”, e outra indicação dizia “Toque a campainha”. Dei uma olhada pela vitrine: vi alguns livros expostos e não parecia ter ninguém lá dentro.
Acabei indo embora sem nem tocar a campainha nem entrar. Encontrar a porta fechada é uma barreira a mais a vencer, e provavelmente me sentiria obrigado a comprar alguma coisa, caso entrasse num ambiente tão reservado e seleto.
Regra básica do marketing é diminuir a fricção entre o cliente e o ato de comprar. Diminuir o número de cliques. Deixar o cartão já cadastrado para só apertar no botão “Comprar”, e possivelmente, por impulso. Compras automáticas periódicas, onde compro sem nem precisar entrar no computador. Enquanto isso, a livraria física faz o completo oposto, aumentar a fricção, colocar uma barreira física entre o cliente e a loja.
Eu entendo que, possivelmente, as portas fechadas são para evitar bandidos, talvez diminuir furtos, numa região da cidade onde devemos sempre “ficar espertos”. E que, também provavelmente, a loja esteja vendendo parte dos livros pela internet, daí a possibilidade de restringir clientes físicos.
Por outro lado, tal estratégia é um tiro no pé. Se não existe boa experiência em compras físicas, compro pela internet mesmo. Pela internet há uma disponibilidade infinita de itens, e é até mais barato. O lead time de entregas vem diminuindo absurdamente (tipo, compro às 10h da manhã e às 16h o produto está entregue em casa, dependendo do que for). Não há preocupação com roubo do número do cartão, se a plataforma for uma das grandes.
Ou seja, não há mais necessidade de visitar a livraria física. Ela mesma pode fechar as portas, devolver o espaço alugado, e ficar somente com a lojinha virtual – onde ela estará concorrendo com livrarias do Brasil e do mundo todo. E, assim, dia após dia, temos menos livrarias físicas.
Ganham as plataformas de e-commerce grandes e quem trabalha nelas. Perdem espaço lojas físicas em geral, num ciclo que está longe do fim…
