O óbvio não existe

“O óbvio deve ser dito”, é uma frase consagrada.

Uma reflexão que ouvi um dia desses vai além, e afirma que “o óbvio não existe”.

A afirmação está correta. O óbvio não existe mesmo. Ele só existe quando já assimilamos o conhecimento de tal forma que nem pensamos mais no tema. Quando surge a pergunta de uma criança, ou alguém de uma cultura de fora, vimos que óbvio não é tão óbvio.

Exemplo 1: Minha filha mais nova está tendo dificuldades em entender o que é vogal e consoante. Na minha cabeça, tal conhecimento está consolidado há tanto tempo que mal lembrava que este deve ser ensinado para crianças.

Exemplo 2: Quando estive na região de São Francisco, Califórnia, vi um comportamento estranho. Carros atravessando o farol vermelho, quando em conversão à direita. Achei muito esquisito. Fosse no Brasil, normal, o trânsito é a coisa menos respeitada do mundo, mas ali era país de primeiro mundo. Só depois descobri que lá é permitido fazer conversão à direita, mesmo com o farol fechado, respeitando em primeiro lugar os pedestres. Algo que está intrínsico nas regras locais, mas não óbvio para alguém de fora.

Há algumas ações “óbvias” a partir desta reflexão.

O grande físico Richard Feynman comenta, em seus livros, que sempre, sempre, começa do óbvio. Faz uma série de perguntas bobas, muito básicas, para garantir entendimento desde o básico.

O publicitário Rory Sutherland também comenta, em seu livro “Alquimia”, que começa demolindo suposições básicas. Por que as pessoas preferem passar o menos tempo possível no transporte público, digamos no trem ou metrô? Ora, óbvio não? Nem tanto. Aumentar a velocidade dos trens envolve investimento enorme em novos trens e controles. Já melhorar a experiência do usuário é muito mais barato. Fosse o trem mais aconchegante, digamos com wi-fi, espaço para colocar bolsas, tomada para carregar o celular, possivelmente teriam passageiros que passariam o dia todo no trem!

Portanto, sempre questione o “óbvio”.

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