O protocolo “proof of work” é utilizado atualmente em criptomoedas, e foi originalmente concebido para evitar spams. Mas o interessante é que, antes mesmo de existir o conceito computacional, a lógica já era aplicada faz muito tempo na sociedade e na natureza: diplomas, certificados, e até a plumagem do pavão. Vejamos como.
O proof of work consiste na entidade “A” mostrar, sinalizar, provar a uma entidade “B” que um trabalho foi feito (daí o nome, prova de trabalho).
Uma utilidade: evitar spams. Hoje em dia, é muito barato computacionalmente mandar um milhão de e-mails de uma só vez. Se, a cada e-mail enviado fosse necessária uma prova de trabalho (digamos, resolver um problema matemático difícil), haveria um limite natural: a capacidade de processamento do computador.
Para funcionar, o proof of work deve ser assimétrico: um problema difícil de resolver, porém, fácil de conferir o resultado.
Interessante notar também que a Teoria dos Números tem inúmeros problemas desta natureza. O que sempre foi apenas uma curiosidade inútil, agora tem uma aplicação prática.
Ex. Encontre x, y e z tais que x^2 -3y + 8z^3 = 2727.
É chatinho achar a solução, porém, é muito fácil conferir se a resposta dada é verdadeira ou não.
- x = 5
- y = 14
- z = 7
Outra característica: é difícil de falsificar, no sentido de encontrar uma solução fácil que engane o sistema.
Em criptomoedas, o proof of work é utilizado para garantir que todas as transações no bloco foram verificadas.
Pensando bem, um diploma de uma boa faculdade é uma prova de trabalho também. É difícil de conseguir: 4 ou mais anos estudando, assinalando presença em aula, fazendo as atividades, etc. E o diploma é fácil de conferir: basta checar as informações junto à entidade emissora.
Uma certificação emitida por uma associação profissional, idem. Tem de gerência de projetos, de qualidade, várias de TI. Cursos online, a mesma coisa.

Tudo isso, por conta de assimetria de informação. Sendo o mundo vasto, não conhecemos as pessoas, e se suas habilidades são suficientes para um serviço. Com essas provas de trabalho, o risco diminui: pelo menos, há um indício forte de que a pessoa conhece do tema – não é garantia absoluta, mas é melhor do que nada.
Até na natureza, o proof of work é importante. Por que algumas gazelas, mesmo fugindo de um leão, dão saltos altos, extravagantes e desnecessários? Uma teoria da evolução diz que esse tipo de salto é como um proof of work dos machos para as fêmeas do bando: “olha só, eu sou tão rápido e forte que estou pouco me lixando para esse leão feroz, até esnobo ele. Fiquem comigo, gatinhas”.
Outro exemplo é o das penas do pavão. Por qual motivo ele teria penas tão chamativas? Há uma desvantagem enorme em carregar tantas penas desnecessárias, que chegam a ter 2 m de altura: mais volume, mais peso, chama mais atenção dos predadores. É um sinal difícil de falsificar, e também funciona como um proof of work: “olha só, mesmo com toda essa parafernália, sou forte o bastante para sobreviver aos predadores”.
O proof of work é tão importante, que pode surgir de formas inesperadas: cartas escritas à mão. Na era pré-internet, era comum enviar cartas e cartões postais, acredite se quiser. Depois do e-mail, ninguém mais se dá ao trabalho de escrever uma carta, levar até os correios e postar. A contrapartida é que é tão fácil enviar mensagens hoje em dia, que estamos transbordando de informação.
Por ironia do destino, uma prova de trabalho difícil de falsificar é escrever uma carta à mão (não imprimir), e mandar para o destinatário. Tem infinito mais valor do que o spam enviado à milhares de pessoas ao mesmo tempo.
“Se eu não te conheço e você deseja me enviar uma mensagem, deve provar que gastou, digamos, dez segundos de tempo de CPU, apenas para mim e apenas para esta mensagem”, Cynthia Dwork e Moni Naor, criadores do protocolo proof of work.
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