Um documentário para este carnaval
“Indústria Americana”, vencedor do Oscar de melhor documentário, mostra o choque cultural entre chineses e americanos.

A história começa com uma fábrica da GM, em Ohio, que fecha as portas.
Anos depois, um grupo chinês instala uma fábrica de vidros automotivos, a Fuyao, nas instalações da GM. Com ela, vem a cultura do país oriental.
Um primeiro ponto é que o chinês comum trabalha longas horas, podendo ficar 10, 12 horas no expediente, com pouquíssimos feriados ao longo do ano. (nota: existe uma expressão na China, o “996”, significando que o chinês entra no trabalho às 9 da manhã, sai às 9 da noite, 6 dias por semana).
A empresa cobra empenho semelhante dos americanos, que claramente não acham justo uma carga dessas.
Um relato impressionante: um trabalhador chinês conta que veio aos EUA pela Fuyao, sem ganhar nenhum adicional no salário ou ajuda de custo extra. Ele vai ficar alguns anos longe da família, tudo isso pelo dever de estar servindo a companhia.
Uma cena ilustra como os chineses pensam: o gerente da fábrica, um americano, quer instalar um toldo, para a inauguração da fábrica. O presidente da empresa, chinês, diz: não coloque o toldo. O gerente retruca: Mas, e se chover? O presidente devolve: Não se preocupe. Não vai chover. (Um autêntico manda-chuva)
A empresa coloca metas muito fortes de produção, exigindo de todos um empenho além do normal para recuperar o investimento realizado (mais de 500 milhões de dólares). Comenta-se que os chineses querem produzir, ao custo de colocar em risco a qualidade do produto final.
Nota-se também pouco empenho em termos de segurança das pessoas. Numa das cenas, uma chinesa coleta cacos de vidro com as mãos nuas, sem a mínima proteção. Em outra cena, um chinês conta como o material é quente, e que ele tem cicatrizes em todo o corpo. Em outra, um americano conta como nunca tinha se acidentado no trabalho, até que aconteceu um acidente com ele, na Fuyao.
Em especial, há um foco na luta da Fuyao para os trabalhadores americanos não se sindicalizarem.
Na visão dos chineses, a fábrica toda é como um grande navio. Se o navio não for para frente, todos serão prejudicados, ocorrendo o fechamento da mesma (como a da GM).
Muitos funcionários, insatisfeitos com jornada pesada, salários baixos, riscos de segurança, se organizaram em pedir a sindicalização. Outros tinham medo de represálias e de não ter outra ocupação possível.
A Fuyao faz uma grande campanha para evitar o sindicato. Contratam uma consultoria americana, especializada em motivar os trabalhadores a não se sindicalizarem (esta consultoria custou US$ 1 MM). A empresa também passou a perseguir de forma indireta os maiores defensores do sindicato, demitindo-os. No final das contas, eles não se sindicalizam.
Indústria Americana está disponível na Netflix, e foi produzida pela empresa do casal Obama.