Confesso que tenho um vício: o de visitar sebos e comprar livros velhos. Em São Paulo há alguns bem interessantes, e acabo indo de tempos em tempos. Quando vou viajar ao exterior, também procuro por livrarias e sebos da cidade e dou um jeito de visitá-los…
Essa foto é na Strand em NY, uns bons anos atrás. Nunca tirei fotos no Sebo do Messias em SP, porque nunca achei que comentaria sobre o tema…

E qual o problema? O problema é que não faz nenhum sentido nos dias de hoje, em que a informação é digital. Vídeos, podcasts, resumos em algum site, há informação em abundância, e talvez em maior qualidade, do que é possível encontrar num livro antigo em um sebo aleatório. Fora que, se eu quiser realmente comprar um livro específico, é muito mais fácil e até mais barato procurar na Amazon ou Mercado Livre.
Eu mesmo já produzi inúmero conteúdo digital (blog, newsletter, posts) e nunca publiquei nada em papel (e nem fá-lo-ei).
Da onde vem esse vício?
Bem, eu sou velho o suficiente para ter vivido numa época em que a informação era escassa. Final da década de 80, quase toda década de 90. Se eu quisesse saber a letra de uma música, tipo “A garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, não tinha a internet para pesquisar. A forma mais simples era perguntar se algum amigo tinha a letra. Ou teria que procurar numa biblioteca, algo assim.
Jornais (em papel) eram uma fonte valiosa de informação, assim como a televisão.
Não à toa, grandes impérios foram formados por quem controlava tais fontes de informação de massa. Lembro do filme “Cidadão Kane”, em que o protagonista controlava um império jornalístico, era tipo um Roberto Marinho da Globo.

Ou o Homem-Aranha, em que Peter Parker trabalhava no Clarim Diário e tinha um chefe ranzinza e pão-duro chamado JJ Jameson… Tudo isso é retrato de uma época.

Bom, o efeito de não ter internet é que um garoto faminto por conhecimento deveria devorar livros físicos. E, ainda garoto, sem dinheiro algum, era mais viável comprar livros velhos caindo aos pedaços do que livros novos caros.
E assim o fiz, comprei infindáveis livros velhos, para formar a massa de conhecimento que impulsionou boa parte do que fiz em minha carreira e que uso hoje.
Com o surgimento da internet, final da década de 90, início dos anos 2000, hoje é o oposto: a informação não é mais escassa. Temos tudo o que precisamos a um clique do mouse. O desafio agora é o oposto, filtrar. Jogar fora toda a informação inútil e pegajosa, como vídeos engraçados de gatinhos, e ter foco para concentrar no que interessa.
Porém, o que acontece nos early days te marca para sempre. E, até hoje, não resisto em entrar num sebo ou livraria e comprar algum livro, que possivelmente nem será lido. Só pelo prazer de visitar tais lugares, que estão claramente em decadência e morrendo com o avanço do digital.
O símbolo do meu blog é o Ninomiya Kinjiro, um garoto do Japão antigo que lia todos os livros que pudesse ter em mãos, e se tornou um grande sábio quando adulto.

Será que, daqui a 20 anos, ainda terei algum sebo a visitar? Espero que sim, e aí caberá outro post sobre o tema!
Veja também: https://ideiasesquecidas.com/2020/10/25/strand-borders-cultura-e-a-livraria-de-lucien/
Trilha Sonora: “A garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes
