O Brasil é uma país de commodities e de bancos. Para mostrar este ponto, basta dar uma pesquisada em listas como as seguintes, e verificar que Petrobrás, Vale, JBS, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, etc, estão na lista.

Fonte: https://istoedinheiro.com.br/maiores-empresas-do-brasil-receita-mercado

Para início de conversa, o que são commodities?
O próprio nome dá uma dica. São produtos “comuns”, matérias-primas como petróleo, minério de ferro, carne bovina, soja, milho, celulose. A ideia é que um barril de petróleo é igual em qualquer lugar do mundo (dentro de uma faixa de especificações), seja produzido no Brasil ou na Rússia. Têm pouca ou nenhuma diferenciação — ou seja, o produto é praticamente o mesmo, não importa quem o produz.

Pelo produto ser padronizado, o preço vai ser o mesmo para todos os concorrentes. Isso facilita negociações e permite comercialização em larga escala.
Só que, por outro lado, gera uma enorme pressão por corte de custos, por parte dos fornecedores.
Vamos analisar: lucro = receita – custo.
O produto final é padronizado, sem diferenciação por qualidade. O preço é dado pelo mercado, que segue uma curva de oferta e demanda. Então, a única variável que sobra, que está no controle da empresa, são os custos.
Quando há muitas empresas que produzem a mesma commodity, todas vão pensar semelhante, virando uma corrida para cortar custos ao limite do possível para continuar entregando, mas a custos baixos.
Quando há oferta demais e o preço cai bastante e por muito tempo, o que ocorre é que as empresas menos eficientes operam no prejuízo e quebram, assim diminuindo a oferta e aumentando os preços. Ou seja, em geral, fábricas mais velhas, com menor eficiência, ou lugares onde a matéria-prima é mais difícil de conseguir, são as primeiras a quebrarem. E fábricas mais novas, que tem vantagem competitiva (como acesso fácil à commodity, ou clima e solo mais adequados à produção), sobrevivem.
Mesmo quando há uma inovação, ou desgargalamento de produção, o ganho esperado é incremental, linear.
Então as empresas de commodities em geral encaram uma assimetria: forte pressão para reduzir custos e pouca pressão para grandes inovações.
É um ciclo motivado por custos: produzir mais a preços cada vez mais menores, etc.
Já empresas de tecnologia têm uma lógica diferente, basicamente o contrário. Imagine uma Apple, Google, Microsoft. Produtos de maior valor agregado, ganhos disruptivo, em escala, para o mundo inteiro. E inovações constantes não são apenas forma de ganhar mercado, são verdadeiramente a própria sobrevivência da empresa – se ela não fizer, algum outro o fará e a deixará para trás. É uma lógica de valor.

Na equação lucro = receita – custo, é um ciclo motivado por receita: produtos diferenciados, maior domínio de mercado, novos produtos e novos mercados, pressão por inovação.
Enquanto empresas de commodities têm em seu ativo bens tangíveis (regiões com petróleo, montanhas de minério, gado bovino, florestas, etc), as de tecnologia têm a maior parte em intangíveis (software, dados, tecnologia de ponta, pessoas altamente capacitadas).

Quanto à barreiras de entrada, é difícil competir com grandes empresas de commodities. São indústrias de capital intensivo: necessito ter milhares de cabeças de gado, ou milhares de hectares de floresta, e alguns bilhões de reais para entrar. Portanto, é comum o governo ter alguma participação, de forma direta ou indireta.
Já na tecnologia a barreira de entrada é muito menor, e um player pode começar pequeno e crescer exponencialmente (vide um Google ou outras citadas). Tende a ser um mercado dinâmico, com players surgindo e desaparecendo rapidamente. É uma competição extremamente acirrada, por conta dessa menor barreira de entrada.
Há poucos players no Brasil que realmente têm uma lógica de empresa de tecnologia: Mercado Livre, Nubank, Ifood, etc.
Sobre otimização e fronteiras eficientes
Imagine uma curva de preço e produção clássica de economia para uma indústria, como a seguinte.

Otimizações, como melhor sequenciamento da produção ou melhor roteirização de veículos, vão fazer a empresa melhorar o seu desempenho e atingir a fronteira eficiente, do melhor possível a ser feito com os recursos atuais. É como se a curva se movesse um pouco, e a uma mesma quantidade, pudesse ter custos menores. Este é um ganho incremental, um percentual em cima do total.

Já um investimento grande em uma nova fábrica, ou em algum aspecto chave da indústria (como terras disponíveis para plantio) ou para desgargalamento de produção, vão fazer a curva mudar bastante, será uma nova fronteira eficiente – basicamente, uma outra curva.

A melhoria incremental através de otimizações necessita pouco investimento, por estar no domínio dos bens intangíveis. Já um novo investimento necessita de um investimento enorme, é um bem tangível.
Essas são noções gerais, podem não valer para casos específicos. Porém, é bom ter essa clareza de pensamento para guiar o nosso entendimento de mundo.
