Algumas reflexões sobre o passado e futuro, sob três aspectos:
- Demografia
- Tecnologia
- Economia

Demografia
Os países desenvolvidos estão envelhecendo. O gráfico a seguir mostra a taxa de fertilidade dos países, medido em nascimentos/mulher. A taxa de reposição, para manter a população igual, deve ser de 2,1 nascimentos/mulher. Abaixo disso, significa decréscimo populacional no futuro. Acima, aumento populacional.

Note que os menores valores começam em 0,8, o que significa um elevado decréscimo populacional em um futuro não tão distante. Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura, China, Espanha. O Japão também é um caso notório de decrescimento populacional.
O Brasil não chega ao extremo desses países, mas está com uma taxa de 1,6, portanto abaixo da de reposição. Não está longe.

Fonte: https://data.worldbank.org/indicator/SP.DYN.TFRT.IN?most_recent_value_desc=false
Em termos de desenvolvimento, há uma janela de oportunidades para um país crescer, quando tem um bônus populacional para entrada na força de trabalho. Boa parte dos países citados perdeu tal janela, de modo que “ficarão velhos antes de ficarem ricos”.
Observe a pirâmide populacional do Brasil atual. Não parece uma pirâmide, parece um baobá.

Algumas consequências pessoais:
- Não espere se aposentar tão cedo. O sistema previdenciário foi criado tendo uma pirâmide em mente, e não tem como suportar uma configuração de pirâmide invertida
- Espere viver mais e trabalhar por mais tempo. A longevidade e saúde das pessoas vem aumentando, de modo que pessoas com 60, 70 anos ainda estão no pleno da forma física e mental
- O mercado de trabalho vai ter que se adaptar. Ainda hoje, é comum preferir entrada de jovens no mercado ao invés de pessoas mais velhas, porém, tal conceito terá necessariamente que mudar, dada as proporções etárias futuras
Para efeito de comparação, observe a pirâmide populacional do Brasil em 1950.

Note que, aí sim, é uma pirâmide. Base larga, topo estreito. Observe que o topo da pirâmide parava nos 60 e poucos anos. Alguns poucos chegavam nos 70 e além.
Um exemplo simbólico, de muitos possíveis. No excelente livro “Manuelzão e Miguilim”, de Guimarães Rosa, o Manuelzão é um vaqueiro sofrido, que “na cabeceira de sua vida, Manuelzão sente ter chegado o momento de apropriar-se de sua história”. Manuelzão tinha por volta de 60 anos, o que, para os dias atuais, ainda estaria em plena atividade. O livro foi publicado em 1964, para dar uma referência de como essa questão mudou.
Para observar a tendência populacional de diversos países, recomendo o site https://www.populationpyramid.net/world/2023
Demografia é o futuro que já aconteceu, segundo Peter Drucker. É como uma bomba relógio, só esperando o momento certo para explodir.
Sobre demografia mundial. Mesmo com decréscimo de nascimentos no mundo desenvolvido, o mundo como um todo continuará crescendo.

Somos cerca de 8 bilhões de habitantes deste planeta, atualmente. Até meados de 2070, seremos 10 bilhões de pessoas!
Um acréscimo de 2 bilhões de pessoas é muita coisa! Dá uns 10 Brasis atuais a mais!
Mas como explicar o acréscimo, dado que acabamos de indicar decréscimo de nascimentos? É que o decréscimo ocorre nos países desenvolvidos, enquanto o aumento populacional ocorre em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos: Paquistão, Índia, Nigéria, países africanos.

Toda esta população vai ter que se vestir, se alimentar, consumir recursos naturais e energéticos. Portanto, vai continuar existindo a necessidade de produtos como o do agronegócio, soja, milho, trigo, carne, papel e celulose; aço, energia e outros recursos naturais.
Tecnologia
Vimos avanços impressionantes em tecnologia. Alguns fatores foram a internet, avanços em hardware devido à Lei de Moore (que diz que a capacidade computacional dobra a cada 18 meses para um custo constante) e outros avanços em ciência e tecnologia.
O seguinte gráfico ilustra o crescimento exponencial da IA.

https://www.visualcapitalist.com/cp/charted-history-exponential-growth-in-ai-computation
Em termos de conectividade, a mesma coisa. Cada vez mais pessoas e dispositivos conectados à internet ao longo do tempo.

Para onde vamos? Há uma excelente reflexão do Silvio Meira, um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade, sobre o tema.

Destaco alguns pontos:
– Da invenção da escrita até a filosofia de Platão, foram 1200 anos
– Da primeira grande LLM (large language model) até um Platão em IA, serão 1200 dias
– Não são meses, nem semanas, são dias. Já se foram 400 dias desde o início do ChatGPT, restando 800 dias para a previsão de Meira.
– Em termos de tokens. O ChatGPT processava 400 mil tokens. O Gemini, do Google, 700 mil tokens, suficiente para quase toda Enciclopédia Britânica.
– Até 2030, bilhões de tokens, e em 2040, trilhões de tokens
Outro fenômeno que vem ocorrendo junto com AI, conectividade e globalização, é o efeito winner-takes-it-all. Alguns poucos vencedores concentrando todos os ganhos, e uma quantidade imensa e cada vez maior de perdedores.

A lojinha de rua que vendia bugigangas perto da sua casa, e que fechou as portas recentemente, estava concorrendo com a Amazon, a Shopee e o Mercado Livre, por exemplo.
O seu computador é de uma marca chinesa ou americana, softwares que você roda são americanos, provavelmente utilizando Windows da Microsoft.
Unindo a primeira parte deste texto com a segunda, a conta não fecha. Por um lado, o grande crescimento populacional futuro será nas regiões mais pobres; por outro lado, cada vez mais um punhado de players globais dominará o cenário mundial.
Alguma consequência estranha pode ocorrer. Há diversas ideias para redistribuir a renda, seja através de renda básica universal, esquema tipo bolsa-família ou imposto de renda negativo. Todas elas têm os seus prós e contras. Só veremos o que pode acontecer no futuro.
Do ponto de vista pessoal, é interessante surfar a onda tecnológica. Estar entre os especialistas capacitados para dominar o poder da AI e dos algoritmos avançados, e utilizar todo este poder.
Economia
Como economia é um tópico amplo, só queria destacar um único ponto. Distorções que até hoje, (abril de 2024), ocorrem devido à pandemia do COVID19.
O gráfico a seguir ilustra bem o que ocorreu.

Uma enorme queda no PIB em 2020, dadas as incertezas todas da pandemia, seguida por uma injeção artificial de dinheiro das economias do mundo todo, criando um pico.
Nesta onda crescente, milhares de empresas se alavancaram devido ao aumento do consumo. Desde o mercado de bicicletas, passando pela indústria de papel e celulose, até empresas de consultoria.
No caso da pandemia, o susto foi forte, mas o boom durou mais tempo e é a última lembrança. Muitas empresas e pessoas ficaram “mal-acostumadas”, por assim dizer, com a doce onda crescente, que não se repetirá tão cedo.

As manchetes acima são bastante simbólicas, porque empresas de consultoria navegam em qualquer época: se ruim, trabalham para cortar custos; se bom, para alocar investimentos. Se estão demitindo, é porque elas mesmas foram iludidas pelo boom da pandemia.
Além disso, o mundo está esquisito: guerras, incertezas, polarização, etc…
Conclusão: O que podemos fazer?
Alguns pontos a pensar.
- Continuar agregando valor em solução real, tangível. O mundo vai continuar precisando comer, se vestir, locomover, consumir energia,
- Não esperar grandes booms como o ocorrido recentemente,
- Continuar estudando, acompanhando fortemente a evolução tecnológica.
A conclusão é estar ligado a uma solução real, lidando com alta tecnologia, num lugar com bons valores é um excelente posicionamento a médio/longo prazo.

“É a espera que ajuda você como investidor, e muitas pessoas simplesmente não suportam esperar”
Charles Munger
