A gente somos inútil

Podemos dividir o tempo desperto de nossas vidas em dois: o tempo télico e o atélico.

“Telos”, significa meta, objetivo, em grego.

Quando fazemos um trabalho remunerado, quando estudamos a fim de conseguir um diploma, fazemos atividades télicas: “úteis” no sentido de alcançar um objetivo.

Quando tocamos guitarra, ou lemos um livro divertido, ou estudamos equações diferenciais sem cobrança, pela simples curiosidade de aperfeiçoamento em tais assuntos, é o tempo atélico. Ou, tempo inútil, no sentido de não ser útil para uma meta.

(Obs. Ver Big Brother ou qualquer lixo do tipo não é atividade télica nem atélica, aí é burrice mesmo – para estes, vale o “A gente somos inútil” do Ultraje a Rigor).

Um erro é o de gastar o dia somente com atividades atélicas, porque aí as contas não vão fechar no fim do mês (a menos que você seja um herdeiro).

O erro oposto, menos evidente, é o de alocar todo o tempo para atividades télicas: todo o dia em um ou mais trabalhos, ou se encher de cursos sem parar para ter inúmeras certificações no currículo (que serão inúteis, olha a contradição).

O tempo atélico é a fonte da criatividade, da inovação. Os autovalores inúteis da aula chata de álgebra linear podem virar um algoritmo de rankear páginas. O tempo inútil lendo um livro aleatório pode inspirar uma solução.

Quando transformamos o hobby, por mais que gostemos dele, em trabalho, ele deixa de ser um hobby – há clientes, cobranças, e atividades enfadonhas inerentes ao trabalho.

Eu gosto de trabalhar full time (não muito mais) e ter muito tempo inútil, para andar, ler e pensar. Paradoxalmente, esse tempo inútil é extremamente útil para pensar fora da caixa, além-trabalho, muitas vezes para resolver os próprios problemas das atividades úteis.

Em um gráfico, algo como abaixo.

Portanto, tenha muito tempo inútil.

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