Arbitragem e sorvetes


Ilustrando o conceito de arbitragem financeira.

Um menino vivia na fronteira entre a Brasilândia e a Argenlândia.
A taxa de câmbio entre moedas era de um real do Brasilândia para um peso do Argenlândia.

Um dia, os reis dos dois países brigaram feio, e como retaliação, a Brasilândia mudou a taxa de câmbio na canetada: agora um real valia dois pesos.

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O rei da Argenlândia se sentiu profundamente ofendido. Arfando de raiva, ordenou o inverso, que um peso valesse dois reais dentro de seu país.

O menino morava na Brasilândia, e tinha 30 reais no bolso. Ele queria usar esse dinheiro para comprar sorvetes para os amigos deles. Mas era final de campeonato na Argenlândia, e ele também queria ir ver o jogo, que custava 30 pesos.

O menino, então, descobriu como conseguir as duas coisas ao mesmo tempo, explorando a diferença de câmbio.

Ele trocou seus 30 reais por 60 pesos antes de cruzar a fronteira.

Daí, ele usou 30 pesos para ver o jogo de futebol, e ficou com 30 pesos no bolso.
Ainda na Argenlândia, trocou seus 30 pesos por 60 reais.

Voltou à Brasilândia com 60 reais, gastou 30 reais comprando sorvetes para os amigos, e ainda ficou com 30 reais no bolso!


No mundo real, um caso desses nunca ocorreria, porque um câmbio tão assimétrico assim seria uma verdadeira fábrica de dinheiro.

Entretanto, as assimetrias entre preços e mercados existem e são exploradas por muitas pessoas. A essas assimetrias, dá-se o nome de Arbitragem. Um pouco mais tecnicamente, arbitragem seria uma operação que explora diferença de preço entre dois mercados, com risco muito baixo.

Por exemplo. Uma arbitragem pode ser o preço de uma ação, digamos Vale, entre mercados. Na Bovespa (ou B3 hoje em dia), alguém quer comprar Vale em um preço. Em Nova York, alguém quer vender a um preço menor. Existe uma oportunidade, o primeiro que comprar em Nova York e vender no Brasil embolsa o lucro.

É como uma diferença de potencial elétrico que gera uma corrente – e a corrente vai diminuir este potencial. Ou um lado de uma chapa de aço mais quente que o outro lado – vai haver um fluxo de calor e a chapa tenderá ao equilíbrio. A velocidade de convergência indica o quão eficiente é o mercado.

A diferença de preços é normalmente minúscula, porque muita gente faz operações deste tipo. Uma pessoa física comum não tem a menor chance de tirar proveito dessas arbitragens simples, porque a corretagem vai ser maior do que o ganho. Tem que ser alguém que paga pouca corretagem, como a própria corretora.

As corretoras e grandes bancos tinham até pessoas especializadas em fazer operações deste tipo. “Tinham”, no passado, porque hoje em dia são algoritmos que fazem isto, uma vez que a velocidade na transação é o fator essencial para o sucesso.

Um extremo disto é contado no livro Flash Boys, onde o autor Michael Lewis conta como um grupo pagou um investimento de US$ 300 milhões, de conexão de fibra ótica entre mercados de Chicago e New Jersey, a fim de fazer operações de arbitragem alguns poucos milissegundos mais rápido do que qualquer concorrente!

Bom, mas em geral, há várias assimetrias neste mundo, e que podem ser exploradas. Alguns exemplos:

Diferença de preço entre mercados
Diferença de informação
Diferença de know how
Diferença de know who
Diferenças temporais
Diferença de risco entre alternativas
E muitas outras.

Há muito espaço para arbitragens econômicas. É necessário ter criatividade, como o menino do sorvete!

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