Uma das minhas maiores inspirações, em duas décadas trabalho em engenharia industrial, é Shigeo Shingo, do Sistema Toyota de Produção.
Questionar o porquê inúmeras vezes, verificar assimetrias, trocar a ordem de produção, paralelizar. O mestre Shingo ensina estes e outros princípios, no livro Kaizen e a arte do pensamento criativo.
O livro original é dos anos 1960, mas os princípios continuam válidos até hoje.

Seguem alguns cases.
Sobre comunicação precisa
Numa fábrica de discos de vinil (os mais novos nem sabem o que é isso), ele indagou ao operador sobre o que ele estava inspecionando.
“Várias coisas”, disse ele.
Shingo continuou indagando. Após mais uma rodada de respostas evasivas, o operador finalmente respondeu:
“Verifico se há poeira nos discos”. Após a resposta, o consultor prosseguiu: “E o que mais?”
“Também vejo se há algum arranhão”.
Ou seja, “várias coisas” na verdade se traduzia em apenas duas, poeira e arranhões. É importante ter clareza e transparência para efetiva comunicação.

Separar por diferença de propriedades
Em outro caso, a peça vinha carregada de limalhas de ferro, que se acumulavam. O projeto foi reformulado com uma calha feita com tela, para que a limalha fosse separada durante o processo de transporte da peça. Para tal, a pergunta foi “qual a diferença entre propriedades da peça e da limalha?” A resposta: peso, dimensões. Com isso, ficou fácil imaginar uma forma simples de fazer a separação.

Otimizar o fluxo de trabalho
Shingo, durante uma visita a seu médico, verificou que a maca, armário e instrumentos de desinfecção estavam em lados opostos da sala. Sua sugestão foi reconfigurar o layout, de modo a otimizar o fluxo de trabalho.

Serial x Paralelo
Uma peça era produzida de forma sequencial: furo na parte de cima, depois furos laterais, etc.
Cada furo era independente dos demais, de modo que seria possível paralelizar o trabalho e ganhar tempo com isso.
A forma encontrada de operacionalizar de forma eficiente foi utilizar uma mesa giratória, como a da foto.

O livro mostra uma série de princípios, com casos ilustrativos como os citados.

Outro conceito genial desenvolvido por Shingo foi o Poka-Yoke: sistema à prova de falhas. É para evitar erros humanos, como enfermeira injetar o vaselina ao invés de soro. O método consiste em fazer com que peças só encaixem se forem as corretas, digamos, o bico do pacote de vaselinatriangular, e o do soro comum, em formato de estrela.
Fábrica de sabão e melhorias
Numa fábrica de sabão, o processo consistia em derramar o sabão numa forma enorme, no chão.
Shingo propôs uma solução diferente. Ao invés de um único recipiente, utilizar vários recipientes em cascata. Desta forma, o processo de secagem do sabão diminui, além de ser muito mais simples e seguro manipular.

Ultimo post da série.
O ferro de passar de uma empresa tinha um problema no mostrador de temperatura. Com a introdução do ferro a vapor, o vapor embaçava o visor. E ninguém estava conseguindo achar uma solução.
Shigeo Shingo imaginou algo andando na parte de dentro do visor, limpando o mesmo do vapor. E veio com a ideia de colocar álcool dentro do visor. Sendo muito volátil, o álcool evaporaria com o aumento da temperatura e limparia o visor. Solução simples e genial!

Não à toa, a Toyota é até hoje referência em qualidade.
Portanto, soluções simples e com aplicações efetivas são possíveis. Há sempre como melhorar os processos de nossas empresas.
