Dica: O livro “Inteligência Artificial”, de Kai Fu Lee, está disponível gratuitamente na plataforma Skeelo. É o audiolivro do mês oferecido para clientes da Claro.
Kai Fu Lee é um empreendedor e pioneiro em IA. Ele trabalhou em gigantes como Microsoft, Apple e Google, e depois abriu um fundo de investimentos para startups chinesas.
O livro aborda amplamente a IA de forma geral, mas os capítulos mais interessantes são sobre empresas chinesas.

Muitos acreditam que as empresas chinesas apenas copiam, pixel a pixel, o trabalho das equivalentes americanas, mas isso é apenas meia verdade.
A China é brutal em termos de concorrência. O Vale do Silício trabalha muito, mas as pessoas parecem preguiçosas perto da China. O ecossistema chinês é como estar num coliseu com gladiadores e poucas regras.
Lee menciona um plagiador em série, Wang Shing, que começou copiando o Friendster. Anos depois, clonou o Facebook. Mais tarde, fez uma cópia idêntica do Twitter. E depois, do Groupon, na moda das compras coletivas.
Porém, não é apenas uma questão de copiar. Ele teve que enfrentar uma concorrência brutal, com dezenas de outras empresas chinesas que também copiavam despudoradamente. A empresa emergiu em um ambiente onde qualquer inovação de uma empresa era rapidamente copiada por outras, e também onde havia inúmeros truques sujos, como denunciar presidentes de outras empresas e atrapalhar concorrentes. A empresa deveria ser rápida e incansável, com uma execução impecável, com acesso a fundos de investimentos e um rígido controle de custos para triunfar em um mercado tão brutal.
A primeira fase foi a de copiar para aprender. A segunda fase, usar o aprendizado para mudar o modelo e evoluir.
Wang Shing venceu o episódio conhecido como “Guerra dos mil Groupons”. Existiam cerca de 5 mil clones do Groupon na China, incluindo o Groupon original. Wang esperou seus concorrentes sangrarem na obtenção de clientes e restaurantes. No momento certo, quando os restaurantes estavam sofrendo com calotes das empresas que quebravam, ele criou um método de pagamento garantido para eles, conseguindo assim sua lealdade. Além disso, por ter experiência em outras batalhas, Wang conseguiu triunfar em um lugar onde o próprio Groupon original fracassou. Ele cita um ditado da Dinastia Ming: “tenha muros altos, boa reserva de grãos e paciência”.
O Vale do Silício entendeu mal a China. Wang não triunfou por ser um imitador, mas sim, por ser um gladiador.
No Vale do Silício, fala-se muito em Missão, ter um propósito nobre, talvez salvar o mundo.
Na China, o objetivo é mais simples: ganhar dinheiro, sobreviver. Não é sobre fama, glória, mudar o mundo, mas sim, ficar rico. Há uma mentalidade de escassez, vinda da pobreza das gerações anteriores.
Outro exemplo citado por Lee é Jack Ma, fundador do Alibaba. Ele competia com o eBay, e o Alibaba foi superior nos detalhes. Ex. O eBay tinha servidores nos EUA. Em uma ocasião, um terremoto prejudicou os cabos subterrâneos, e o eBay ficou alguns dias fora do ar na China. Já a startup chinesa não teve tal problema, pois tinha servidores na China. Além disso, o Alibaba evoluiu de outras formas, como o meio de pagamento Ali Pay, posteriormente o Ant Pay.
A ética de trabalho chinesa é brutal. Reuniões aos sábados e domingos. E-mails às 19h com resposta até às 20h. Jornadas de trabalho das 9h da manhã até às 9h da noite, seis dias por semana. E concorrência fortíssima tanto em trabalho quanto nos estudos, para entrar nas melhores faculdades.
Abordagem leve x pesada.
O Vale do Silício adota a “abordagem leve”. O Uber é apenas a plataforma, não possui veículos. O Airbnb não possui casas.
Enquanto isso, na China, as empresas adotam uma “abordagem pesada”. Além de ter a plataforma virtual, também querem ter a parte física. O Didi táxi comprou postos de gasolina. Plataformas de entrega possuem sua própria logística (nota: este último vem ocorrendo no ocidente também). Essa abordagem O2O – online para offline – aumenta tremendamente a dificuldade de que o modelo de negócios seja copiado. É o equivalente a aumentar os muros para se proteger dos invasores.
O livro aborda diversos outros temas, como possibilidade de desemprego pela IA, história da IA, etc. Ele foi escrito em 2019 e cita inovações que já não são novidades hoje (como compartilhamento de bicicletas). Além disso, não existia IA generativa com o poder de hoje.
Mesmo assim, é uma leitura sensacional.
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