Os melhores insights são os óbvios. Porém, o insight é óbvio a posteriori. A priori sempre há muito ruído, muitas hipóteses alternativas, interesses de vários lados, falta de clareza, etc.
A posteriori sim, aí fica evidente ver o que funciona e o que não funciona. Aquilo que funciona e é simples parece muito fácil a posteriori, de forma que, quem vê de fora ou chega depois de pronto, acha que foi muito tranquilo.

Digo isso porque já fui vítima do meu próprio trabalho diversas vezes, no sentido de entregar excelentes resultados, mas parecer tão óbvio no final das contas…
Um deles foi emblemático. No setor Florestal, uma das variáveis mais importantes é a chuva. Como as florestas são extensas, em raios da ordem de dezenas de quilômetros, não é possível fazer estradas de boa qualidade em todos os lugares. Na maioria das fazendas de colheita, é feita apenas uma estrada de chão, mais simples, para não encarecer demais os custos. Havia também opções mais caras, como estradas cascalhadas, que suportam melhor a chuva; ou pátios intermediários.
A época de chuvas era entre dezembro e fevereiro do ano seguinte. E, todos os anos, havia uma discussão enorme de como a empresa poderia se preparar para os meses chuvosos: mais estradas cascalhadas? Mais veículos de transporte? Mais gruas? Mais estoque de madeira no pátio da fábrica? Mais estoque nos pátios intermediários?
E aí ficava uma dezena de gerentes, de todas as áreas, numa sala por duas horas discutindo sem chegar a lugar algum! No final das contas, ganhava quem tinha mais lábia, quem falava mais alto!
Pois bem, o trabalho feito foi um simulador de eventos discretos. Um mini modelo da operação florestal como um todo. Calibramos o baseline de comparação, e depois fizemos uma série de perguntas ao modelo: o que acontece com mais veículos, ou com menos veículos? Com mais pátios ou menos pátios? E assim sucessivamente.
Chegamos a conclusões interessantes. Os pátios intermediários só ajudam se estiverem bem posicionados (ou seja, perto das florestas mas com acesso à estradas, para saída na chuva). O número de veículos e gruas não deve ser menor do que o necessário, mas também muito mais do que o necessário não ajuda em nada (porque o gargalo passa a ser, rapidamente, o estoque). O estoque pode ser analisado como estoque garantido (que sai com chuva) e o não garantido, e o garantido deve ser proporcional à expectativa de chuva. E outros insights, que simplificavam enormemente o raciocínio e tinham uma explicação causal simples e direta dentro da operação.
Ora, o modelo era tão simples (na medida do possível) e elegante que a discussão acabou. Não tinha mais um monte de gerentes discutindo planos. Depois disso, era a área de planejamento rodando o modelo e orientando as operações a executar. É claro que problemas menores continuavam ocorrendo, só que melhorou demais em relação ao cenário anterior.
Os insights obtidos foram incorporados à rotina, viraram hábito. No meio corporativo, um hábito vira um processo, onde as pessoas cumprem sem nem saber bem o motivo. Pois bem, o processo estava implementado.
Depois de um tempo, as pessoas mudam: se aposentam, saem. E, uns cinco anos depois, ninguém lembrava bem como era antes, devido à incorporação dos insights na rotina.
Um trabalho bom é assim: depois de pronto, é tão óbvio e tão natural que ninguém mais se lembra de que houve a necessidade deste trabalho. As pessoas que fizeram o trabalho, consequentemente, são esquecidas também – afinal, é fácil fazer o óbvio, difícil mesmo é aquele sistema monstruoso da TI que ninguém consegue colocar de pé, não é?
Portanto, busque por soluções simples que resolvam a maior parte dos problemas atuais. Faça com que virem rotina (ou processos). Sua recompensa não será em reconhecimento, mas será ver suas ideias rodando, implementadas e gerando valor de verdade.
