Eu gostei bastante do ClubHouse, a tal nova rede social de podcasts.
Podcasts normais têm um problema. Dá um trabalho enorme fazer, editar, manter. Imagine um especialista em Bitcoin, por exemplo. Ele gosta do tema, manja tecnicamente, mas não vai ter paciência para criar um podcast.
O ClubHouse é muito mais do que podcast. Ele dá voz à milhares de especialistas do mundo inteiro. É como se fosse uma conferência no Zoom, porém apenas áudio, onde entusiastas sobre o tema podem participar. Há salas onde ocorrem essas conferências, e participantes podem levantar a mão e serem chamados para falar sobre seu ponto de vista.
Não tem edição. Não tem enrolação, vinhetas, click bait, videozinhos bonitos e vazios como no Youtube, nada disso. É conteúdo puro, ao vivo.
Há uma quantidade enorme de grupos de interesse, e podem ser bastante nichados. Economia comportamental. Startups. Bitcoin. Teoria do Caos. Física quântica. Inteligência artificial. Hoje eu estava numa sala sobre Geometria Diferencial, com 877 pessoas ouvindo. Nunca haveria um podcast normal sobre o tema.
É possível seguir personalidades referência. Bill Gates. Elon Musk. Naval Ravikant. Lex Friedman.
Uma contrapartida é que nem toda discussão é interessante (é só sair da sala) e também, como não tem edição, não dá para garantir a qualidade do som ou do discurso de quem estiver falando.
Dá para aprender e ensinar muito utilizando essa ferramenta. Ainda é só para IPhone, imagino que esta vá explodir quando tiver para Android, se não surgir algum concorrente que ocupe o espaço antes.
É a história de um engenheiro excêntrico (para não dizer totalmente maluco), que criou uma plataforma de 400 m² no mar, a 12 Km da cidade de Rimini, alguns metros além do limite territorial italiano.
A seguir, ele se autoproclamou presidente deste estado independente, e tentou conseguir reconhecimento das Nações Unidas. Em pouco tempo, centenas de pessoas começaram a visitar a ilha, e até a pedir cidadania neste país sem leis! O engenheiro acabou causando uma confusão enorme com as autoridades italianas… Vejam o filme para saber o final da história.
Apesar de completamente surreal, o filme é baseado numa história verdadeira!
Trailer:
Disponível na Netflix.
Imagem da plataforma real da Ilha das Rosas. Fonte: Mar sem Fim
Para fazer um simples lápis, necessitamos de diversos materiais: madeira, grafite, borracha, metal.
“Imagine um cedro nascido da semente que cresce no nordeste da Califórnia e no estado do Oregon. Agora visualize todas as serras e caminhões e cordas e outros incontáveis instrumentos usados para cortar e carregar os troncos de cedro até a beira da ferrovia. Pense em todas as pessoas e suas inumeráveis capacidades que concorreram para minha fabricação: a escavação de minerais, a fabricação do aço e seu refinamento em serras, machados, motores: todo o trabalho que faz com que as plantas passem por vários estágios até se tornarem cordas fortes e pesadas; os campos de exploração de madeira com suas camas e refeitórios, a cozinha e a produção de toda a comida para os lenhadores. Milhares de pessoas têm participação em cada copo de café que os lenhadores bebem.”
Eu, Lápis, é um pequeno conto de Leonard Read. A animação abaixo tem 6 minutos e resume bem o texto, destacando a enorme especialização do trabalho dos dias atuais, e a não-existência de uma entidade central coordenando tudo.
Uma recomendação de leitura é o livro “AI Superpowers”, de Kai Fu Lee. É um livro que fala de tecnologia e negócios, como muitos outros, porém, este é diferente. Primeiro, pela perspectiva. Kai é taiwanês e trabalhou muitos anos com inteligência artificial, principalmente na China. E, segundo, porque ele enfatiza bastante o lado humano, além do tradicional AI-resolve-tudo.
A carreira de Kai-Fu começa como pesquisador, passa por responsável pela operação chinesa da Microsoft, até os dias atuais, em que é gestor de um fundo de tecnologia chinês.
Espírito empreendedor
Uma dificuldade das startups era fomentar o espírito empreendedor. Na China, desde tempos antigos o melhor trabalho era ser servidor público. Passar em algum concurso e viver para sempre sem grandes preocupações, num país onde a grande maioria veio de um passado muito sofrido.
Como convencer jovens chineses brilhantes a preferirem uma startup a um concurso público? Kai conta que visitou vários pais e mães, levou para jantares e demonstrações da empresa, a fim de explicar a lógica dos novos tempos. Era um trabalho ladeira acima.
A ascensão de Jack Ma e o AliBaba foram dois fatores que ajudaram, no quesito mudar a cabeça milenar das pessoas. Jack Ma é uma pessoa de origem humilde, sem formação, e com muito carisma. Mirando-se em Jack, muitos jovens viram que existia um caminho alternativo ao concurso público.
Ambiente regulatório
A China pode ser um ambiente ideal para o desenvolvimento de algumas novas tecnologias, como o carro autônomo. Este é um caso específico em que o ambiente regulatório conta muito. Nos EUA, por exemplo, podem surgir regulações impedindo carros autônomos. Ou, imagine a repercussão, no caso de acidente! Já na China, pela força maciça do Estado, os carros autônomos provavelmente teriam menos interferência.
Abordagem das empresas
Duas formas de uma startup abordar a AI. Uma, é tentar abordar o problema genericamente, sem se especializar em alguma área. Algo como um power grid, e tal qual a analogia, a empresa tem que ser grande e pesada para suportar uma abordagem dessas. A segunda é algo como carregar baterias. Seriam empresas para resolver um problema específico (digamos, reconhecimento de imagens no agronegócio), e seriam mais leves, por serem focadas.
IA geral e empregos
A inteligência artificial geral, aquela dos filmes de ficção onde os robôs tomam conta do mundo, está longe de se tornar realidade. Por enquanto, temos algumas aplicações específicas.
E, mesmo quando a AI geral começar a ficar mais próxima da realidade, o problema real não será o mundo ser destruído e a humanidade, escravizada. O problema real será a diminuição dos empregos.
Kai Fu cita outros autores, como o israelense Yuval Harari, que prediz o surgimento de uma nova classe social, a classe dos inúteis. Seriam aqueles que não têm a qualificação mínima para fazer algum trabalho de valor maior do que um algoritmo fará.
AI e o poder do amor
Kai Fu, neste ponto, cita que conheceu o poder do amor. Ele conta como dedicou o mínimo de tempo possível para a família, ao longo da carreira, a fim de otimizar o tempo para a busca de seu aperfeiçoamento profissional. Um exemplo: ele quase perdeu o nascimento da primeira filha, por conta de uma reunião importante!
Há alguns anos, Kai Fu foi diagnosticado com câncer. Isto mostrou a importância do ser humano, que o dinheiro e o sucesso não conseguem comprar.
Um exemplo, de algo que apenas o ser humano pode prover. Uma das empresas de Kai Fu lançou um aplicativo para idosos. Este tinha ícones grandes, interface simples, e permitia uma série de serviços a um clique: comprar insumos, encomendas de restaurantes, etc… Também tinha um service-desk, para falar com um atendente humano.
Qual foi o serviço mais acessado? O service-desk. Para uma boa parte dos atendimentos, os idosos nem tinham a necessidade de acessar algum serviço. Eles queriam apenas companhia, alguém com quem conversar. Esta é uma necessidade bastante grande entre os idosos, ainda mais nos tempos modernos.
Talvez a resposta para o desemprego estrutural crescente seja o amor. Recompensar interações sociais. Distribuir riqueza ao mesmo tempo em que se distribui atenção às pessoas necessitadas. Cuidar de quem precisa. Ter filhos.
Kai Fu Lee tem diversas publicações em chinês e é uma espécie de celebridade por ali. O livro AI Superpowers é a única obra em inglês, até o momento, e traz um background cultural oriental e reflexões bastante pertinente para os anos e décadas que viveremos.
Joe Sacco é um jornalista gráfico, se é que existe este termo. Ele faz reportagens e as publica na forma de história em quadrinhos.
Duas recomendações de leitura: Reportagens e Palestina.
Sacco cobriu algumas guerras. O livro “Reportagens” é uma compilação de relatos de guerra dele.
No Brasil existe um preconceito de que histórias em quadrinhos são coisa de criança. Porém, definitivamente, as reportagens mostradas não são para crianças. Há relatos bem pesados sobre a guerra nos balcãs (Sérvia – Bósnia), treinamento dos soldados no Iraque e a terrível situação dos refugiados da Chechênia, entre outros.
Muito impressionante é uma reportagem sobre o sistema de castas na Índia, onde ele acompanhou as enormes dificuldades que uma pessoa das castas mais inferiores enfrentam.
Basicamente, eles estão presos a uma armadilha de pobreza: todo o mínimo necessário (como educação) lhes é negado, pessoas de castas superiores sentem-se no direito de usar e abusar do trabalho e liberdade destes. Se lhes é dada terra em algum programa de reforma agrária, eles não conseguem a manter na prática, sob a coerção de quem detém o poder real.
Uma hora, Sacco notou que a mera presença dele como jornalista era uma ameaça à segurança dos párias da sociedade indiana, e ele teve que se retirar do local.
Outra obra do mesmo autor é sobre a Palestina.
Ele acompanha ambos os lados – israelense e palestino, conversando com as pessoas, vivendo ao lado delas. Uma das histórias é sobre uma pessoa que tinha uma casa perto da fronteira entre territórios. Sob a justificativa que a casa tinha sido utilizada como base para disparar para o lado israelense, o exército israelense derrubou não só a casa desta pessoa, mas toda uma fileira de casas adjacentes! Em outra reportagem, ele mostra um colono judeu que tem a casa alvo de tiros com muita frequência, e o medo constante vindo daí.
Felizmente o Brasil, apesar de todos os problemas, é um país em paz com os vizinhos e num estágio de desenvolvimento que permite uma vida decente à maior parte de sua população.
Você precisa fazer login para comentar.