Basta um simples passeio de carro numa cidade como São Paulo, para encontrar o pior que a espécie humana tem a oferecer: carros forçando passagem, ultrapassando pela direita, entrando em qualquer brecha à sua frente, passando pelo farol vermelho, buzinas, motos cortando os carros, carros fechando motos…
Por isso, ninguém estranha uma placa com os dizeres: “Obedeça a sinalização”. Ora, mas a sinalização não está lá para ser respeitada?
Da mesma forma, a placa “Não feche o cruzamento”, quer dizer que pode fechar o cruzamento se não tiver a placa?
E outra, “Não faça fila dupla”, não deveria ser algo óbvio? Aliás, não é difícil encontrar fila dupla, até tripla, nos horários de pico.
Tantas placas assim, tratando motoristas como crianças, causam até o efeito contrário: é tanta sinalização que ninguém dá bola para isto.
Num ambiente hostil como este, é praticamente impossível não ser hostil também. Se dar a seta para entrar à esquerda não funciona, porque o carro que está na faixa da esquerda não dá passagem, o negócio é jogar o carro primeiro e dar a seta depois… Se o cruzamento fica travado por outros carros e demoro 10 min para atravessar um simples sinal, eu também vou fechar um pouquinho o cruzamento… Se todo mundo passa no amarelo, porque eu ficaria para trás?
A campanha “Seja gentil no trânsito” talvez fosse mais eficaz se fosse irônica: “Seja hostil no trânsito, e seu vizinho também o será”, “Feche o cruzamento, se todos o fizerem, ninguém mais anda nesta cidade”.
A minha sugestão para ajudar no assunto é simples. Retirar essas placas de sinalização que deveriam ser óbvias, deixando apenas as que fazem sentido. E, começando por mim mesmo, passar a respeitar as regras do comportamento civilizado no trânsito: não forçar passagem, buzinar por qualquer coisa, fechar o cruzamento, etc… É uma gota no oceano, mas de gota em gota, quem sabe pelo menos algumas pessoas saiam do trânsito menos estressadas?
Ação: seja civilizado no trânsito.